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10/01/2022
Em 2021, a aviação agrícola brasileira voou mais de 4 mil horas em operações de combate a incêndios pelo País, realizando 10,9 mil lançamentos contra as chamas. O que, por sua vez, representou 19,5 milhões de litros de água usados para proteger biomas naturais, lavouras e até instalações e residências dentro das áreas de incêndio. As operações envolveram em torno de 30 aeronaves, além de cerca de 45 pilotos e 40 profissionais de apoio nas bases. Uma força que também ajudou a garantir a segurança de centenas de brigadistas e voluntários nas equipes que atuaram em solo contra os incêndios.
O cálculo é do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e foi feito com base em informações repassadas pelas próprias empresas que atuaram nesse tipo de operação durante o ano. Além de dados da Transparência de órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Secretaria de Meio Ambiente da Bahia e o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), que contratam empresas aeroagrícola para a temporada de chamas.
Segundo o diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle, os dados refletem principalmente operações para proteger reservas naturais, como o Pantanal no Mato Grosso do Sul, Chapada dos Veadeiros, em Goiás; Serra da Canastra, em Minas Gerais; Chapada Diamantina, na Bahia, e Parque Nacional de Brasília. Além de áreas de Cerrado e Caatinga no Nordeste e áreas de proteção em São Paulo. Em muitos locais, com aviões tendo que retornar depois de algum tempo, devido ao surgimento de novos focos de incêndios.
PRODUTORES
“Além disso, mais uma vez tivemos uma demanda forte por parte de produtores rurais, que há cerca de quatro anos têm apostado mais no apoio aéreo para o pessoal que combate às chamas em solo”, ressalta Colle. O que ocorre principalmente no interior de São Paulo e no sudoeste goiano. Nesses locais, a ferramenta aérea integra os planos de contingência de produtores principalmente de cana e milho.
Em Goiás, pelo menos quatro empresas associadas ao Sindag prestam serviço aos produtores rurais na entressafra do trabalho em lavouras. Elas pararam de dispensar todos os pilotos e pessoal de apoio entre julho e setembro e mantém um serviço de prontidão contra as chamas.
“Funciona assim: as empresas aeroagrícolas mantém aviões prontos para decolar e os pilotos se revezam nos plantões, junto com pessoal de apoio de solo (para o abastecimento das aeronaves com água e combustível nas operações). “Os produtores se cotizam para pagar o custo da prontidão e, quem aciona o serviço, paga as horas de voo da operação”, destaca o executivo do Sindag. Já em São Paulo, as usinas sucroenergéticas pagam por demanda, quando os brigadistas em solo entendem que não vão conseguir dar conta sozinhos do incêndio.
Combates aumentaram, apesar dos focos
terem diminuído segundo Inpe
O aumento das horas voadas em combate a incêndio pelos pilotos agrícolas ocorreu mesmo com a diminuição do número de focos de incêndios no país, no comparativo entre as temporadas das chamas de 2020 e 2021. “Acreditamos que isso ocorre devido a dois fatores. Um deles é que mais produtores rurais estão fazendo uso desses serviços – além de proteger instalações e lavouras nos incêndios das plantações, para evitar que as chamas atinjam reservas naturais em suas propriedades (o que, além das perdas materiais, gera multas)”, destaca o diretor do Sindag.
O outro fator, segundo Colle, é que em 2021 as operações aéreas de combate a incêndio continuaram com certa intensidade até a metade de outubro. Ou seja, já dentro do tempo em que, em outros anos, as empresas aeroagrícolas estariam voltando ao trabalho em lavouras, com o fim da entressafra. Isso também ajudaria a explicar por que houve aumento no combate a incêndios com aeronaves mesmo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tendo registrado cerca de 21% menos de focos de incêndios em 2021, em relação ao ano anterior. Segundo dados do órgão, entre julho e outubro foram 145.867 focos de incêndio detectados no País no ano passado, de julho a outubro. Contra 177.295 focos em 2020, no mesmo período. “Em outubro, que ainda teve maior quantidade de aviões entrando o mês trabalhando contra chamas, contabilizou-se 28.342 focos de incêndios no Brasil”, assinala Colle.
Além disso, ele lembra que a diferença de horas voadas e lançamentos contra chamas entre 2020 e 2021 pode ser menor. “É sacramentado que 2021 teve mais combates aéreos, mas há a possibilidade do levantamento de 2020 ter sido um pouco subestimado. Isso porque na época menos empresas haviam informado suas horas voadas contra o fogo e não tínhamos aperfeiçoado a consulta aos sistemas de Transparência dos governos federal e estaduais. Chegamos a informar isso na época.”
Proteção a casas, mulher piloto
e celebridade enviando socorro
O diretor-executivo do sindicato aerogrícola também lembra que 2021 teve ainda algumas situações dramáticas, como o caso do piloto agrícola que, no último instante, conseguiu salvar uma casa de ser atingida pelas chamas, no Pantanal. Foi no início de setembro, quando o piloto Renato Oliveira Coelho, 57 anos, estava prestes a lançar água em um foco de incêndio isolado (longe das equipes de terra). No último instante ele percebeu as chamas chegando perto de uma casa mais adiante, abortou o lançamento, subiu e manobrou para atingir o novo alvo com quase 2 mil litros de água. “A gente reza para acertar e deu certo. Já baixou a chama e o pessoal da casinha conseguiu chegar perto para apagar o resto do fogo”, recordou. O fato se somou às suas mais de 1 mil horas de voo contra chamas em sua carreira.
No balanço de 2021 o Brasil também ganhou a primeira mulher piloto agrícola atuando em combate a incêndios. Em 20 de agosto a gaúcha Joelize Friedrichs, 31 anos, teve seu batismo de fogo (literalmente) em uma operação no município de Campo Alegre de Lourdes, no norte da Bahia. Ela integrou uma força de quatro aviões agrícola que garantiram suporte a equipes com cerca de 60 bombeiros e brigadistas. As chamas ali castigaram uma região de caatinga e de ventos fortes, alastrando-se para sete localidades no interior do município.
O uso da aviação agrícola contra as chamas foi mais lembrado até no meio artístico. Em setembro, o humorista Whindersson Nunes contratou uma empresa aeroagrícola da Bahia para ajudar no combate a um incêndio de grandes proporções no Piauí. Mais precisamente em São Raimundo Nonato, onde o trabalho protegeu casas em fazendas e um corredor ecológico na região da Serra da Capivara.
Mobilização por projeto de lei que
facilitaria uso da ferramenta aérea
O balanço do combate aéreo a incêndios em 2021 também indica que, apesar de ter crescido a aposta no apoio aéreo contra as chamas, a eficiência da aviação poderia ser ainda maior com uma política mais específica para o setor. É o que se espera com o Projeto de Lei (PL) 4629/2020, aprovado em outubro de 2020 pelo Senado, mas que ainda aguarda votação pela Câmara dos Deputados. De autoria do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), a proposta inclui a aviação agrícola nas políticas governamentais de combate a incêndios florestais no País.
O PL 4629/20 tramita desde o início de 2021 na Câmara – onde, até setembro, já havia tido aval das Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) e de Constituição, Justiça e Cidadania CCJC). De lá para cá, a iniciativa segue na fila para entrar no Plenário. O que foi tema inclusive de uma reunião do diretor Gabriel Colle com dirigentes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em 30 de novembro.
ANTENCIPAR COMBATE
No encontro, em Brasília, o dirigente aeroagrícola solicitou ao grupo apoio para que o projeto vá a votação logo que se iniciarem os trabalhos do Legislativo, em fevereiro. A aposta do setor é que, com mais clareza e segurança jurídica para a construção de planos que incluam a aviação no combate às chamas, as ações sejam mais eficientes e se tornem mais baratas. “Além de aumentar a segurança para quem está combatendo as chamas em solo”, acrescenta Colle. O principal ponto, segundo ele, é antecipar a entrada em cena da aviação nas operações. Mesmo no caso dos produtores rurais, o que se vê são casos em que a aviação é solicitada tarde, quando as chamas já atingiram grandes proporções.
Com isso, ao invés de um primeiro combate até que o pessoal de terra chegue para concluir a extinção, os brigadistas chegam direto em uma zona muito quente. Os aviões precisam fazer mais lançamentos para proteger o pessoal de terra e ajudar as equipes a avançar na linha de frente. Além de refrescá-los a todo o momento. Com um alerta e combate antecipado, o aumento de eficiência do conjunto brigadistas/aeronaves representaria menos custo operacional e, principalmente, menos risco para o pessoal e o ecossistema.
“Se aproveitaria melhor pilotos e aviões que estão ociosos na temporada das chamas, que coincide com o período de entressafra nas lavouras”, pontua o diretor-executivo do Sindag. Colle destaca ainda que, em incêndios em vegetação, o combate principal é feito pelos brigadistas em solo. “A função do avião é diminuir as chamas altas para as equipes chegarem até elas, proteger o grupo para que não sejam cercados pelo fogo e, em operações mais longas, refrescar o pessoal (neste caso com lançamentos formando uma “chuva”, com quantidades menores de água a cada vez). O combate direto apenas com aeronaves ocorre em zonas de difícil acesso para os profissionais e voluntários em solo.”
Fonte: SINDAG
Fonte: SINDAG