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11/07/2012
Nos últimos meses tem se acirrado o debate sobre o aquecimento da atmosfera. Recentemente, James Lovelock, um dos principais cientistas a elaborarem a teoria de que a emissão de gases para a atmosfera resultaria em aquecimento global revisou suas previsões iniciais, concluindo agora que o aquecimento não está acontecendo na intensidade inicialmente prevista. Um grupo de cientistas sempre argumentou que estávamos em um ciclo de aquecimento e agora estaríamos entrando em um ciclo de esfriamento, dependentes do sol. Por outro lado, “aquecimentistas” demonstram, utilizando complexos modelos matemáticos, que o ambiente se aquece como conseqüência da emissão de gases de efeito estufa como o gás carbônico, óxido nitroso e metano.
O que a Agricultura tem com isso?Há estimativas de que a agricultura mundial seria responsável por 14% do total de emissões antropogênicas globais de gases de efeito estufa. No Brasil, embora não exista uma base de dados consistente, estima-se que a agropecuária responderia por 75% do gás carbônico e 90% da emissão anual de metano e óxido nitroso. Isso vai do preparo do canteiro de alface até o desmatamento (que nem sempre é devido à agropecuária), passa pelo uso de corretivos e fertilizantes, pela produção de arroz irrigado e outros alimentos e chega ao arroto/flatulência do boi. Aliás, já se publicou que a flatulência dos dinossauros teria causado aquecimento global maior que o atual, isso, a mais ou menos 150 milhões de anos. Triste sina, morrer no calor da própria flatulência... A boa notícia é que a pesquisa agrícola brasileira tem feito a lição de casa.
Há mais de 30 anos estudamos e desenvolvemos técnicas de semeadura e plantio diretos; há mais de 10 anos estamos aprendendo e aperfeiçoando as técnicas de cultivo de alimentos e matérias primas junto à criação de gado e mesmo integração da agricultura com florestas. Mais que aceitar essa tecnologia, os agricultores têm se adiantando no seu desenvolvimento, investindo seu próprio capital. Daí o aparecimento de termos como “Boi verde”, “Integração Lavoura Pecuária Floresta”, “Agricultura de Baixo Carbono” e outras.
O próprio governo brasileiro se comprometeu com organismos internacionais a diminuir as emissões da agropecuária, e lançou o programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, uma linha de financiamento especial. As boas técnicas agrícolas podem sim colaborar para diminuir a taxa de emissão de gases de efeito estufa. Mas, seria esse o principal objetivo de uma Agricultura Sustentável?A agricultura tem como função a produção de alimento, matérias primas e energia.
Os agricultores já descobriram, por exemplo, que a erosão tolhe seu patrimônio, que a falta de água o empobrece. Assim, existe a consciência de que a produção e a conservação dos recursos naturais se confundem, ninguém no campo quer outra coisa. Daí a necessidade de uma Agricultura Sustentável, que é muito maior que a simples mitigação do efeito estufa. Uma Agricultura Sustentável implica em conservação dos recursos, melhoria do solo, perdas mínimas de nutrientes, alta produtividade e, portanto, uso de tecnologia que permita sua existência infinita.
Ora, se durante o processo evitarmos a emissão de carbono, óxido nitroso e metano, melhor. Então, não importa se o ambiente esquente ou esfrie, precisamos de uma agricultura cada vez mais eficiente e sustentável. Isso depende de gente, de ciência, de gestão e, principalmente, de vontade política.* Por Ciro A. Rosolem – Professor Titular da FCA/UNESP/Botucatu, Membro do CCAS – Conselho Científico para Agricultura Sustentável.