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27/06/2022
A safra 2022 inicia trazendo uma novidade para o setor canavieiro e para o consumidor. A partir de julho começa a chegar às prateleiras das lojas e supermercados o primeiro açúcar mascavo dotado de um sistema de rastreabilidade baseado em blockchain, tecnologia de ponta capaz de atestar a transparência e a integridade das informações do produto. Por meio de um QR Code estampado na embalagem, qualquer pessoa poderá verificar as informações sobre a origem e o processo de fabricação do açúcar. O tipo mascavo é valorizado no segmento de produtos naturais e saudáveis, mas ainda sofre com casos de adulteração.
Ao longo de três anos, uma equipe de especialistas da Embrapa Agricultura Digital (SP) trabalhou no desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar). A tecnologia foi customizada para o açúcar mascavo e validada na planta agroindustrial da Usina Granelli, parceira no projeto-piloto. Agora, a empresa será a primeira licenciada a comercializar o produto rastreado, que vai levar o selo Tecnologia Embrapa.
O sistema foi introduzido no processo de produção neste mês de junho, dando início aos primeiros lotes com rastreabilidade via blockchain. Pelo contrato de licenciamento, uma porcentagem das vendas será revertida para a Embrapa na forma de royalties. O desenvolvimento do projeto também contou com o apoio da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana).
Um evento no dia 21 de junho na sede da Usina Granelli, em Charqueada (SP), marca o lançamento oficial da tecnologia de rastreio do açúcar mascavo por blockchain.
A tecnologia Sibraar possibilita que os dados de fabricação do produto sejam armazenados em blocos digitais, usando a blockchain para construir uma sequência temporal e imutável dos registros e garantindo, assim, a integridade das informações geradas ao longo do processo de produção.
Para cada lote do açúcar mascavo da Granelli, serão disponibilizadas a data de produção, a variedade de cana utilizada e a identificação e geolocalização da propriedade rural que forneceu a matéria-prima para aquele lote, conforme as regras previstas na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Também serão fornecidas informações sobre a análise microbiológica do produto e sobre os parâmetros físicos e químicos daquele açúcar, como teor de sacarose, umidade e cor.
O sistema da Embrapa foi concebido inicialmente para o setor sucroenergético, mas pode ser customizado também para a agroindústria vinculada a outras cadeias agrícolas, como a de grãos. Para o pesquisador Alexandre de Castro, líder do projeto, tem crescido a exigência de mercados consumidores internos e externos por alimentos mais seguros e sustentáveis.
A rastreabilidade é fundamental para levar ao consumidor final maior conhecimento sobre a procedência e o processo de produção e para garantir a competitividade do produto brasileiro. “A adoção de ferramentas com tecnologias do tipo blockchain embarcadas surge como alternativa importante para atender esse mercado uma vez que possibilitam que cada lote fabricado receba uma assinatura digital única para criar uma trilha segura de auditabilidade dos dados”, destaca.
A Embrapa Agricultura Digital está apta a receber demandas de indústrias e empresas que atuam no setor sucroenergético que tenham interesse em licenciar a tecnologia de rastreabilidade blockchain Sibraar para utilização em seus produtos comerciais. Para mais informações, entre em contato pelo email cnptia.negocios@embrapa.br
O Sibraar é o primeiro software para rastreabilidade registrado no mercado nacional, voltado para a agroindústria da cana-de-açúcar, desenvolvido com tecnologia blockchain e que oferece ao consumidor informações por lote de fabricação diretamente disponibilizadas em QR Code nas embalagens.
Toda a arquitetura do sistema de agrorrastreabilidade foi desenvolvida pela equipe da Embrapa e o armazenamento e processamento dos dados, bem como a disponibilização da informação final na internet, ocorre nos servidores da Empresa seguindo protocolos de segurança. Por meio de ferramentas criptográficas, cada lote de fabricação do açúcar tem suas informações gravadas em bloco e recebe uma assinatura digital gerada no data center da Embrapa. Ali, o software produz o encadeamento automático desses blocos, como uma corrente, criando um histórico dos dados de fabricação ao longo do tempo. Essa sequência é então associada a um código QR que vai permitir o acesso às informações pelo consumidor, bastando para isso apenas de um smartphone.
“Com a blockchain, a assinatura digital de cada novo lote do produto inclui as informações codificadas de todos os lotes anteriores, formando uma sequência imutável. Se houver qualquer alteração no banco de dados, o código QR etiquetado nas embalagens do produto é automaticamente inativado. Esse é o diferencial quando se utilizada códigos de barras bidimensionais associados à tecnologia blockchain”, explica Castro. A etapa de verificação, que atesta a integridade da informação rastreada, é distribuída, ou seja, está nas mãos do próprio consumidor. “Qualquer pessoa poderá checar se o histórico daquele registro foi manipulado. Se algum dado foi alterado, o QR Code não trará as informações. É como a nossa história de vida, se fosse possível alterar qualquer fato do passado, seu presente, como é, seria apagado”, compara.
Questões relacionadas à originação e rastreabilidade dos produtos já estavam no radar da Usina Granelli. Segundo a diretora de projetos, Mariana Granelli, a possibilidade de incorporar uma tecnologia como blockchain foi a oportunidade de dar completa transparência e ser reconhecido pelas melhores práticas adotadas na produção. “O mercado está cada vez mais exigente, quanto mais formos transparentes nessa relação, acreditamos que melhor será a nossa reputação junto ao consumidor”, ressalta. Ela projeta para este ano um piloto de produção de quatro toneladas de mascavo com rastreabilidade. A Usina também já estuda estender o uso da tecnologia para outros produtos, como o açúcar tipo demerara e destilados alcoólicos.
Fundada há 35 anos, na região do vale do rio Piracicaba, a Usina Granelli nasceu como engenho para produção industrial de cachaça, revendendo para grandes engarrafadoras do País. Nos anos 2000, a empresa passou a produzir também etanol e xarope de cana. A fabricação de açúcar é mais recente, produzindo os tipos VHP (Very High Polarization), açúcar bruto voltado para a exportação, e o demerara e mascavo. O açúcar mascavo com a rastreabilidade via blockchain é a aposta da empresa para entrada na venda direta ao consumidor, por meio de supermercados, lojas especializadas e plataformas de comércio eletrônico.
“Há cinco anos, a Usina vem aprimorando o processo de fabricação, buscando parâmetros ideais para aceitação no mercado. O objetivo é atender um segmento de consumidores preocupado com a saudabilidade dos alimentos e disposto a remunerar um açúcar com maior valor agregado. A rastreabilidade chega neste mesmo contexto, de oferecer um alimento seguro e de qualidade”, afirma Granelli.
Um dos principais produtos derivados da cana até o século XIX, sendo substituído com o tempo pelo açúcar branco e refinado, a demanda pelo tipo mascavo cresceu nos últimos anos na esteira do segmento de produtos naturais. Identificado pelo modo de produção mais artesanal, por tratar-se de um açúcar bruto, com o mínimo de processamento na sua fabricação e sem uso de aditivos químicos para clareamento e refino, o mascavo preserva alguns nutrientes em concentração muito superior ao açúcar branco, como cálcio, magnésio, fósforo e potássio. Seu preço na prateleira do mercado é, em média, até cinco vezes superior ao do açúcar cristal, por exemplo.
Porém, ainda existem casos de adulteração do produto, em que o açúcar cristal e outras substâncias são misturados ao mascavo durante uma das etapas da fabricação. Como resultado, tem-se um açúcar com características físicas semelhantes ao produto original, mas com propriedades químicas bem diferentes. Um dos parâmetros laboratoriais que ajudam a identificar a pureza do mascavo é o grau de polarização, que define a porcentagem de sacarose do produto.
Esse dado está rastreado pela tecnologia da Embrapa e pode auxiliar o consumidor a atestar os padrões de qualidade e a idoneidade do produto que está adquirindo. A vantagem da tecnologia blockchain, que já é muito aplicada em operações financeiras, é que as informações são praticamente invioláveis, garantindo além da procedência a transparência das informações de industrialização do açúcar.
“O Sibraar é um exemplo de tecnologia pioneira na cadeia sucroenergética, resultado de uma iniciativa da Embrapa para inovação aberta com o setor produtivo”, ressalta o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira. Essa modalidade de projeto é focada em uma conexão maior da pesquisa com as demandas da agropecuária, que conta com parceiros comprometidos com a adoção da solução gerada. “A partir dessa experiência, a Embrapa tem um arcabouço de conhecimento que vai reduzir o tempo para desenvolvimento e customização da tecnologia para outras aplicações e culturas”, enfatiza.
O projeto teve origem a partir da cooperação técnica estabelecida em 2019 entre a Embrapa Agricultura Digital e a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), à qual a Usina Granelli é associada, que prevê ainda a geração de outros ativos e soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial e sensoriamento remoto.
Há mais de três anos, a Coplacana vem buscando acelerar e dar mais foco à pauta de inovação, promovendo a aproximação do setor produtivo com startups e instituições de pesquisa, como a Embrapa. O desenvolvimento do sistema de rastreabilidade com blockchain, construído em parceria com a Usina Granelli, é considerado um caso de sucesso, de acordo com o diretor de negócios da cooperativa, Roberto Rossi. “Conseguimos trazer a Embrapa, com a sua expertise, e o nosso cooperado, que tem essa visão de acesso a novos nichos de mercado, e juntos estamos viabilizando um açúcar mascavo rastreado com blockchain que é inovador no Brasil”, afirma.
Rossi acredita que as novas tecnologias vão contribuir para que o Brasil, país líder mundial na produção de açúcar, consiga acessar mercados cada vez mais exigentes, como o europeu, o norte-americano e o canadense, e vê com grande entusiasmo o avanço da agricultura digital, no setor sucroenergético, trazendo uma maior credibilidade e segurança do alimento. “Com essas ferramentas, é possível satisfazer todos os tipos de consumidores. Tecnologia, produtividade, aumento de renda, acesso a novos mercados são marcos importantes e é esse futuro que se acelera, no qual a informação sobre o alimento será cada vez mais fundamental na tomada de decisão do consumidor”, completa.
Fonte: Embrapa Agricultura Digital
Fonte: Embrapa Agricultura Digital