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04/06/2021
Demanda aquecida e valorização na cotação dos grãos deverá incentivar o aumento da área da cevada. A área de cultivo na Região Sul deverá chegar próximo aos 118 mil hectares, retomando os números de 2019 quando a produção brasileira superou as 400 mil toneladas de cevada. Além da malteação, a alimentação animal abre novas oportunidades para crescimento na cultura. Efeitos da safra passada Em 2020, a cultura da cevada apresentou resultados distintos nos três estados da Região Sul, onde está concentrada a produção brasileira dos grãos. No Paraná, houve aumento de 4,8% na área plantada, chegando aos 63,6 mil hectares (ha). Apesar das chuvas irregulares a partir de agosto, com cenários de baixa precipitação, houve aumento de 5,4% na produtividade, que ficou em 4.259 kg/ha. A produção foi de 270,9 mil toneladas de grãos de alta qualidade, sendo praticamente toda a produção utilizada na indústria de malte. Em Santa Catarina, houve redução na área plantada, que passou de 1.400 para 700 ha. As frustrações de safra provocadas por estiagem foram os principais responsáveis pela queda na área plantada em 2020. No Rio Grande do Sul houve uma redução muito acentuada na área plantada, de 31%, caindo de 56,7 para 39,1 mil ha. Na principal região produtora de cevada no Estado, o Planalto Médio, a ocorrência de geadas no espigamento e a escassez de chuvas no enchimento de grãos contribuíram para uma redução de 18,3% na produtividade, que ficou em 2.595 kg/ha. Com redução na área plantada e na produtividade, a produção caiu 43,6%, ficando em 101,5 mil toneladas. Na porção oeste do Estado, praticamente não se aproveitou nada do que foi colhido para a produção de malte, enquanto que na porção leste do Planalto Médio em torno de 60% da produção foi aproveitada com essa finalidade. Perspectivas para 2021 Um levantamento da Embrapa Trigo junto ao setor produtivo de cevada indica um cenário favorável para a cultura da cevada nesta safra. No Rio Grande do Sul, está previsto um aumento de 36% na área contratada para produção de cevada cervejeira. Os preços a serem pagos deverão variar de 120 a 135% do preço do trigo pão (PH 78). O preço será ainda 1% superior para cada ponto percentual acima de 85% de grãos da classe 1, podendo chegar a 150% do preço do trigo. “Com a valorização do trigo e a tendência de permanecer esse cenário no curto e médio prazos, a rentabilidade da cultura da cevada tende a melhorar ainda mais”, observa o pesquisador Aloísio Vilarinho. Em Santa Catarina as áreas de cultivo deverão se repetir os números de 2020, próximo a 700 ha. No Paraná, a expectativa da FAPA/Agrária é de novo aumento de área próximo a 10% com relação à safra passada, com o aumento na demanda em função da instalação de uma nova maltaria no Estado. A cevada na Região Sul deverá voltar aos números de 2019, quando foram cultivados 118,8 mil ha (Conab Série Histórica), com média de produtividades de 3.600 kg/ha, totalizando 429 mil toneladas de grãos, com bom aproveitamento pela indústria de malte. A previsão de clima favorável à cultura em 2021, poderá resultar em aumento de produtividade. Tendências de mercado Do total de áreas com cultivo de cevada no mundo, cerca de 70% está voltada para suprir a alimentação animal. No Brasil, um dos maiores mercados mundiais de cerveja, o cultivo sempre esteve voltado à produção de cevada cervejeira, cuja produção atende apenas 30% da demanda da indústria instalada no País. “Quando os grãos não atingem o padrão de qualidade exigido para a malteação, acabam destinados à indústria de ração animal que, historicamente, absorve cerca de 30% da cevada brasileira”, conta Aloísio Vilarinho, destacando que este cenário já começou a mudar: “Em virtude de alta nos preços do milho, principal produto nas rações, há uma demanda crescente da cevada e outros cereais de inverno pela indústria de proteína animal, principalmente para suínos e aves. Isso deverá garantir a liquidez dos grãos mesmo quando não alcançarem a qualidade para malte”. Conforme as avaliações nutricionais realizadas pela Embrapa Suínos e Aves, os níveis ótimos para inclusão da cevada na ração de suínos ficam entre 20% e 25% a partir da fase de crescimento. No caso dos frangos de corte e poedeiras recomenda-se níveis de até 20% de cevada na ração a partir da fase inicial. Outro cenário que começou a ser configurado pela pesquisa é o uso de cevada forrageira, direcionada à alimentação de ruminantes. Para atender a indústria cervejeira, os grãos de cevada precisam de teor de proteínas entre 9 e 12%, ao passo que para a alimentação animal quanto maior o teor de proteínas melhor. As diferenças também estão relacionadas ao volume de massa verde e à uniformidade das espigas, que variam conforme o mercado a ser atingido. “Como o programa de melhoramento genético da Embrapa sempre esteve direcionado ao desenvolvimento de cultivares de cevada cervejeira, muitos materiais bons para alimentação animal acabavam descartados. Estamos resgatando esse trabalho, com o objetivo de ampliar a oferta de forragens na Região Sul, visando principalmente cobrir o vazio forrageiro outonal, quando o produtor enfrenta a escassez de alimento de qualidade para os animais”, conta o pesquisador da Embrapa Trigo. Com elevado valor nutritivo, a silagem de cevada permite uma boa conversão alimentar. Em vacas leiteiras, a Embrapa Trigo constatou que com 1 kg de matéria seca de silagem de cevada, é possível produzir 1,2 kg de leite, Além do melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares específicas para o forrageamento animal, a Embrapa Trigo está validando cultivares já existentes buscando o melhor encaixe no sistema de produção: “A ideia é inserir a cevada logo após a colheita da soja, com ciclo precoce, visando fazer pré-secado ou mesmo pastejo, antes da semeadura da cultura de inverno. Os resultados têm sido promissores e deveremos apresentar uma indicação de manejo para o setor produtivo ainda neste ano”, conclui Aloísio Vilarinho. Saiba mais sobre a cultura da cevada no Brasil na entrevista com o pesquisador da Embrapa Trigo Aloísio Vilarinho: https://www.embrapa.br/trigo/pesquisa-em-movimento.
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Fonte: Embrapa Trigo