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03/01/2022
Uma pesquisa do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP) demonstrou que a casca da romã pode ser explorada de forma sustentável, rápida e barata para diferentes finalidades. Por meio de uma nova técnica, os cientistas conseguem extrair da casca 84,2% mais antioxidantes, substâncias que possuem propriedades conservantes e são capazes de retardar o processo de envelhecimento, aproveitando a porção da romã que vai para o lixo.
No trabalho, os pesquisadores mostram que substâncias naturais encontradas em plantas e conhecidas como NADES, sigla em inglês para solventes eutéticos naturais profundos, podem ser aplicadas para retirada dos antioxidantes existentes na casca da romã. Assim, não é preciso usar opções tóxicas como metanol e nem o etanol que, apesar de ser um solvente verde, evapora facilmente e é explosivo.
Com o sucesso do novo método, os especialistas estão agora colocando em prática uma etapa diferente do estudo: incorporar os antioxidantes da romã obtidos de maneira ambientalmente amigável a revestimentos à base de gelatina e quitosana, dois biopolímeros, para desenvolver uma película protetora capaz de aumentar a vida útil de morangos, terceiro item na lista de maiores perdas em valor do setor de frutas, legumes e verduras dos supermercados brasileiros.
O estudo foi premiado no 2º Encontro da Pós-Graduação da USP por sua preocupação com o 12º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), do Consumo e Produção Sustentáveis, e conta com financiamento da FAPESP.
Os cientistas atuam em parceria com a unidade Embrapa Instrumentação, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, também localizada em São Carlos, para avaliar os efeitos do uso dos revestimentos poliméricos na aparência e no sabor dos morangos.
Os primeiros resultados, considerando 14 dias de armazenamento na geladeira, indicam que a película consegue manter a textura, retardar a contaminação e evitar a desidratação dos frutos.
“Queremos contribuir para a diminuição do descarte de morangos utilizando para isso a casca de romã, que é responsável por uma elevada atividade antioxidante, mas não é aproveitada pela indústria, sendo considerada um resíduo agroindustrial”, contou Mirella Bertolo, doutoranda do IQSC-USP e autora principal do trabalho, em entrevista para a Assessoria de Comunicação do IQSC.
Os resultados da pesquisa foram descritos em artigo publicado na revista científica Journal of Cleaner Production.
Incentivo ao uso de produtos naturais
O primeiro desafio do estudo foi conseguir obter os antioxidantes presentes na romã a partir de solventes verdes. “Os NADES foram descritos depois que pesquisadores começaram a se questionar sobre o transporte de nutrientes em árvores em ambientes congelados. Eles descobriram que as plantas produzem substâncias naturais, com propriedades únicas de solubilidade, que possibilitam esse transporte”, relatou Stanislau Bogusz Junior, professor do IQSC e orientador de Bertolo, também em entrevista para a Assessoria de Comunicação do IQSC.
No estudo, foram testados cinco NADES com propriedades distintas. Os pesquisadores utilizaram ferramentas estatísticas para analisar a interação entre as variáveis, reduzindo a quantidade de experimentos necessários, e chegaram a um processo otimizado com cloreto de colina e ácido lático que resultou em uma extração de apenas 25 minutos com alto rendimento de compostos.
O professor explicou que as substâncias largamente sintetizadas em plantas têm propriedades antioxidantes, contribuindo para a neutralização de moléculas que são produzidas em maior quantidade mediante estresse, alimentação desregrada, exposição à poluição e consumo de álcool e cigarro.
Níveis mais altos de radicais livres, por sua vez, estão atrelados ao envelhecimento, daí o interesse da indústria de cosméticos na aplicação de antioxidantes em cremes antirrugas, por exemplo. Suas propriedades também despertam o interesse da indústria alimentícia, já que têm função conservante.
Atualmente, mencionou o professor, são usados muitos antioxidantes sintéticos para aumentar a validade dos produtos e há um interesse crescente dos consumidores pela substituição por opções mais saudáveis.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do IQSC.
Fonte: FAPESP
Fonte: FAPESP