Digite o que procura
29/09/2022
O pesquisador científico e Diretor do Núcleo Regional de Pesquisa de Pirassununga, do Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Marcello Villar Boock, explica sobre os diferentes sistemas de aquicultura em relação à sustentabilidade, desenvolvidos pela instituição.
No setor da aquicultura do Brasil, assim como na maior parte dos países ocidentais, predomina o sistema de monocultivo; ou seja, um sistema de produção caracterizado pela criação de uma única espécie em determinado local.
Para promover a mitigação dos impactos ambientais causados pelos monocultivos aquícolas intensivamente arraçoados, alguns empreendimentos de países ocidentais têm resgatado um conceito antigo e comumente empregado por países orientais, como a China, Índia, Vietnam, Bangladesh, dentre outros. Atualmente, eles são conhecidos pela sigla em inglês IMTA (Integrated Multiprophic Aquaculture) que pode ser traduzido como “Aquicultura Multitrófica Integrada”.
A ideia básica desses sistemas é que, por meio de duas ou mais espécies que, de preferência tenham diferentes hábitos alimentares e ocupem diferentes extratos da coluna d’água, haja um melhor aproveitamento dos nutrientes (ração, nitrogênio e fósforo, por exemplo) e da água na qual esses organismos são criados. Com isso, tem-se difundido a ideia de que sistemas multitróficos integrados são mais “sustentáveis” do que os monocultivos convencionais.
O pesquisador explica que “sistemas de aquicultura multitrófica e de monocultivo possuem naturalmente diferentes níveis de sustentabilidade, que são divididos em três dimensões: econômica, ambiental e social. Dentre elas, as que mais ganharam projeção nos últimos anos foram a econômica e a ambiental, pois são as mais almejadas pelos aquicultores”.
A econômica é calculada normalmente por indicadores como análises de fluxo de caixa, valor presente líquido, taxa interna de retorno e período de retorno do capital investido. Comparando um monocultivo de tilápias e um policultivo de tilápias e camarões de água doce como exemplo de sistema integrado, sendo ambos conduzidos em tanques escavados. No policultivo utiliza-se a mesma densidade de tilápias que no monocultivo, mas com baixas densidades de camarões. Com isso, na operação de um sistema integrado de tilápias/camarões, há um pequeno aumento dos custos de produção, correspondente à aquisição de pós-larvas de camarão em relação à criação de tilápias em monocultivo; mas, em contrapartida, obtém-se um expressivo lucro extra com a venda dos camarões.
Segundo produtores da região norte do Paraná, onde este sistema de cultivo é bastante empregado, esse lucro extra geralmente é suficiente para pagar a maior parte da ração consumida pelas tilápias, que, por sua vez, corresponde ao maior custo na produção dos peixes. Consequentemente, há uma redução do custo de produção da tilápia, aumentando assim a margem de lucro do produtor, que passa a ganhar mais pelo quilo de peixe produzido.
Devido à grande evidência que se tem dado ao meio ambiente, sobretudo pelos meios de comunicação e por órgãos governamentais, as vantagens em termos ambientais dos sistemas integrados de produção podem e devem ser exploradas pelos produtores, visando agregar valor ao pescado produzido de forma ambientalmente sustentável. O nicho de mercado para produtos que “não agridem o meio ambiente” cresce constantemente no mundo todo, cabendo aos produtores o grande desafio de encontrar formas para valorar o pescado produzido de forma “mais sustentável”.
Pesquisadores do Instituto de Pesca têm desenvolvido diversas tecnologias que visam alcançar a tão almejada sustentabilidade na aquicultura, assim como ferramentas que podem auxiliar nas tomadas de decisões e na gestão de empreendimentos aquícolas, tendo em vista o viés da sustentabilidade. Todas essas informações são abertas ao público e levadas a produtores rurais, potenciais investidores, estudantes e técnicos, por meio de cursos, publicações e assessorias técnicas oferecidas constantemente pela instituição e disponíveis no site.
“Nosso objetivo com essas informações não é induzir o leitor a adotar os sistemas de Aquicultura Multitrófica Integrada como forma de aumentar seus lucros ou a sustentabilidade de seu negócio; mas, sim estimular as reflexões sobre o atual modelo predominante na aquicultura do hemisfério ocidental, tendo em vista a alternativa de sistemas que conciliem as três dimensões da sustentabilidade. Em um país megadiverso como o Brasil, as possibilidades de integração entre as diversas espécies aquáticas disponíveis e diferentes ecossistemas são imensas e ainda muito pouco exploradas”, elucida Boock.
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo