Gerar cultivares adaptadas ao Centro-Sul e ao Cerrado do Brasil, oferecendo aos agricultores uma alternativa para o período seco de inverno e, como desdobramento, contribuir para o aumento da produção nacional e a consequente redução das importações, hoje em torno de 13,5 mil toneladas. Esse é um dos objetivos do programa de melhoramento genético de lentilha desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), baseado nos pilares da precocidade, produtividade, alto valor nutricional, adaptação à colheita mecânica e resistência/tolerância a doenças.
O programa também contempla o desenvolvimento de novas cultivares para atender determinados “nichos”, que procuram produtos diferenciados, como as lentilhas alaranjadas ou mais escuras, geralmente de menor tamanho que as encontradas no mercado brasileiro.
A novidade entre as linhas de pesquisa que vêm sendo trabalhadas pelo programa, e diz respeito ao melhoramento genético preventivo, visa desenvolver e disponibilizar aos produtores variedades resistentes a pragas agrícolas de importância quarentenária antes que ingressem no Brasil, a exemplo da murcha de fusário, causada pelo patógeno Fusarium oxysporum f.sp. lentis, uma das principais doenças fúngicas que incidem sobre a cultura da lentilha.
De acordo com o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Hortaliças Warley Nascimento, que coordena o programa de melhoramento genético de leguminosas (ervilha, lentilha e grão-de-bico), trata-se de uma doença ainda não registrada no Brasil, mas amplamente difundida no mundo e presente em países vizinhos como Argentina e Uruguai.
“Nesse caso, como não é possível testar a resistência genética no campo ou em casa de vegetação, utilizamos marcadores moleculares que possibilitam identificar a presença do gene fw, que confere resistência ao fungo em genótipos de lentilha”, explica o pesquisador, que aponta a caracterização molecular desses acessos como “uma importante ferramenta para definição de genótipos promissores para o melhoramento genético preventivo com vistas à obtenção de cultivares adaptadas às condições brasileiras”.
Mercado
O fortalecimento da pesquisa voltada para o melhoramento genético, na avaliação de Nascimento, pode – além de consolidar o mercado interno oferecendo alternativas aos agricultores brasileiros ao ampliar o leque de potenciais ganhos econômicos – tornar o País exportador do grão para a Ásia, por exemplo.
“A agricultura brasileira tem em mãos um grande potencial para atender tanto o mercado interno da lentilha – praticamente abastecido por meio de importações, principalmente do Canadá (cerca de 90% do volume importado) - quanto a comercialização do excedente para exportação, o que representa uma valiosa contribuição do setor produtivo ao equilíbrio da balança comercial, beneficiando toda a cadeia produtiva”, sustenta o pesquisador.