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14/09/2021
A Embrapa Cerrados (DF) lança nesta terça-feira (14), às 14h, em evento on-line no canal da Embrapa no YouTube , como cultivares de mandioca para indústria de farinha e de fécula BRS 417 , BRS 418 e BRS 419 , como primeiro especialmente desenvolvido para as condições do Cerrado do Brasil Central.
Elas se destacam pela elevada produtividade de amido - até 30% maior que a cultivar mais plantada na região -, pela arquitetura favorável aos tratos culturais e ao plantio mecanizado devido à altura mais elevada das plantas e da primeira ramificação, bem como pela moderada resistência à bacteriose, principal doença da cultura no Bioma.
Resultado de uma pesquisa de melhoramento genético participativo (veja quadro) em 2012 e que contou com mandiocultores, cooperativas e extensionistas rurais de diferentes polos de produção de amido do Cerrado, os materiais vão contribuir para aperfeiçoar os sistemas de mandiocultura na região, além de possibilitar a maior diversificação das cultivares utilizadas pelos produtores.
A BRS 417 apresenta raízes com disposição e tamanho que facilitam a colheita mecanizada. Nos experimentos, taxa de rendimento média de raízes de 38,005 kg / ha, porcentagem de amido nas raízes de 31,53% e rendimento de amido de 11.984 kg / ha.
Com potencial para ser empregada em cultivos ao aproveitamento da vigorosa parte aérea, rica em folhas e pecíolos, na alimentação animal, a BRS 418 obteve produtividade média de raízes de 38.940 kg / ha, porcentagem de amido nas raízes de 32,35% e rendimento de amido de 12,651 kg / ha nos experimentos.
Já a BRS 419 (foto ao lado) , devido à elevada rusticidade, pode ser utilizada em políticas direcionadas ao desenvolvimento da cadeia produtiva do amido e da farinha de mandioca, com foco em produtores com menos acesso a tecnologias. Apresentou produtividade média de raízes de 42.010 kg / ha, porcentagem de amido nas raízes de 30,29% e rendimento de amido de 12.870 kg / ha.
“São materiais que vão agregar características tecnológicas para os sistemas de produção de mandioca, como a facilitação do plantio mecanizado, que reduz o uso de mão de obra, além de aumentar a produtividade de amido por hectare e facilitar os tratos culturais, como aplicação de herbicidas, adubação de segundo ciclo e poda. Todas essas características contribuem de forma direta para a redução dos custos de produção ”, afirma o pesquisador Eduardo Alano Vieira .
Colega de Alano, o pesquisador Josefino Fialho aposta que o produtor pode escolher os materiais de acordo com o sistema de produção. “Quem tinha basicamente uma cultivar e variedades locais agora tem três novas opções. São materiais distintos e podem ser usados para manter a variabilidade genética dos cultivos. Nossa recomendação é: plante as três, teste-as nas suas condições e decida quais manter. ”
Alano acredita que as novas cultivares devem promover outros impactos nos sistemas de produção da região. “Não há atualmente, um mercado de comercialização de manivas-semente certificadas. E os novos clones têm uma taxa de multiplicação de maniva mais alta - de uma planta da cultivar mais plantada se obtêm cinco plantas novas, enquanto uma planta dos novos materiais possibilita ao menos dez novas plantas. Fica mais fácil difundir esses materiais desenvolvendo o comércio de manivas-semente ”, explica.
No segundo semestre de 2020, a Embrapa disponibilizou material propagativo das cultivares às empresas produtoras de manivas-semente e de mudas micropropagadas por meio de oferta pública. “Como agregamos os licenciados para comercializar esses materiais, daremos opção ao produtor de comprar uma muda de qualidade genética superior, livre de pragas e doenças”, afirma Fialho.
A cultura da mandioca é uma das mais importantes do ponto de vista socioeconômico para o Bioma Cerrado, sendo cultivada em uma área estimada em 250 mil hectares. Até o momento, as cultivares mais plantadas na região são materiais introduzidos de outros biomas ou raças locais (materiais locais), sem um programa de melhoramento genético voltado às condições locais. “Daí a ideia, paralela à demanda dos produtores por materiais adaptados aos sistemas de produção utilizados na região, produtivos, resistentes às principais pragas e doenças. Foi nosso grande motivador para o desenvolvimento de cultivares ”, justifica Alano.
Os três novos clones foram gerados pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Cerrados, tendo sido bolado nos campos experimentais em Planaltina (DF). Os caracteres observados foram a arquitetura de planta favorável aos tratos culturais, a manutenção da produtividade de amido, a elevada resistência às principais pragas e doenças da região e a adaptação aos sistemas de produção do Cerrado.
Para uma validação final, foi utilizada a metodologia de pesquisa participativa, na qual os clones identificados como promissores foram levados para cultivo por produtores da região que têm a mandioca como carro-chefe da produção e que, em sua maioria, processam raízes para a produção de farinha e / ou fécula. “Queríamos ter uma validação por quem iria utilizar a tecnologia”, diz Josefino Fialho.
Foram escolhidos seis pontos de teste para validação, sendo quatro em Minas Gerais, um em Goiás e um no Distrito Federal. Em Minas, foram selecionados a fecularia Polvilho Irmãos Cândido, em Rio Pardo de Minas, no Alto Rio Pardo, segunda maior região produtora de amido do estado, localizada no norte mineiro; uma fecularia em Lagoa Formosa, entre o Alto Paranaíba e o Triângulo Mineiro, outra importante região mineira produtora de mandioca; além de Unaí, no noroeste, região em expansão do cultivo de mandioca de indústria com a instalação de farinheiras e fecularias; e em Uberaba, no Triângulo.
Em Goiás, os testes foram realizados na Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores de Polvilho e Derivados da Mandioca da Região do Cará (Cooperabs), que produz polvilho e farinha em Bela Vista de Goiás (GO), principal município goiano produtor de mandioca. No Distrito Federal, os clones foram tomados nos campos experimentais da Embrapa Cerrados.
As cultivares foram submetidas a experimentos de avaliação agronômica e tecnológica conduzidos nas safras 2012/2014, 2013/2015, 2014/2016 e 2018/2020. “Procuramos testar os materiais em diferentes sistemas de produção, desde fecularias de médio e grande porte até cooperativas e pequenos produtores para que tivéssemos maior representatividade possível dos sistemas de produção da região”, afirma Alano, dependente que a validação continua em outras regiões.
Ele ressalta que a validação final se dá no sistema de produção, com as tecnologias utilizadas pelos produtores. Em paralelo à produção no campo, as cultivares também são testadas na indústria de transformação em farinha e fécula. “O feedback já é imediato, tanto dos produtores quanto dos consumidores finais”, comenta.
Josefino Fialho observa que o melhoramento participativo é uma metodologia que, por preconizar a participação efetiva da pesquisa, da extensão rural e do produtor, facilita a futura adoção de novas cultivares. “Uma cultivar que já foi validada e aceita por um grupo grande de produtores que a testaram tem uma probabilidade de aceitação muito maior por parte dos demais produtores do mesmo bioma que utilizam o sistema de produção igual ou parecido em que ela foi testada”, afirma.
Participante dos testes de validação das cultivares, da Cooperabs, de Bela Vista de Goiás, está localizada na região do Cará, produtora de polvilho de mandioca desde a década de 1950. Os novos materiais passaram a o rol de cultivares utilizados pelas 52 famílias de cooperados em cerca de 700 ha de plantio, dos quais 350 ha são colhidos e processados anualmente. A cooperativa comercializa, por ano, cerca de 60 toneladas de polvilho, 40 toneladas de farinha e 5 toneladas de goma de tapioca na região metropolitana da capital goiana, no Entorno de Brasília e em outras 40 cidades de Goiás.
“As novas cultivares trouxeram mais uma janela de oportunidade para a cooperativa. Até então, ficávamos reféns de apenas uma cultivar antiga, usada desde 1987. Se ocorrer uma nova doença ou praga, não saberíamos o que fazer. Com mais cultivares, temos mais segurança na hora de plantar ”, diz o presidente da cooperativa, José Atair Neto (foto acima) .
Ele aposta na tecnologia para incremento da renda dos cooperados. “A arquitetura ereta das plantas facilita a seleção das manivas, no plantio e na colheita. O rendimento de amido por hectare é considerado satisfatório e a qualidade do amido não interfere na qualidade final do nosso polvilho, que é tradicional ”, afirma. “As novas cultivares são uma forma de melhorar ainda mais a produtividade e de ganharmos escala, diminuindo custos”, completa.
Deucivan da Silva, um dos produtores cooperados, destaca que os diferenciais das novas cultivares são a maior rapidez no plantio e a facilidade na colheita devido ao porte mais alto e ereto das plantas. “Há uma diminuição na mão de obra com a pulverização costal, pois não é preciso abrir picadas nas entrelinhas para o aplicador passar. Como são mais altas e não têm tantos galhos, o manejo fica bem mais fácil ”, comenta.
“Observamos um grande aumento na produção de raízes e de polvilho, que é o principal produto da nossa região. Economicamente, foi muito bom para mim e para toda a comunidade ”, acrescenta o também cooperado Ediones de Campos.
Produtora de polvilho doce e azedo em Rio Pardo de Minas, no norte mineiro, uma fecularia familiar Polvilho Irmãos Cândido também aposta nas novas cultivares da Embrapa para diversificação da produção nos 600 ha de área de plantio de mandioca. A empresa processa 7 mil toneladas anuais de mandioca e produz 650 mil kg / ano de polvilhos. Os produtos são comercializados em feiras e padarias no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha e nos municípios da Bahia.
Animada com o potencial produtivo das novas cultivares, fecularia plantou 15 hectares de cada uma delas na última safra. “São cultivares que coube para ficar”, comenta Dionísio Cândido, diretor da empresa, que também ressalta as vantagens do porte alto e ereto das plantas.
Ele também comenta sobre as características industriais das novas cultivares: “Elas trabalham bem no descascador. O teor de amido é satisfatório, de 28% a 30%, com excelente desempenho nas caixas de fermentação. Vamos continuar multiplicando (as cultivares) por terem atendido à demanda do teor de amido e para suprir a necessidade da indústria ”.
O Coordenador técnico da unidade regional da Emater-MG de Salinas, Guilherme Sales, destaca uma parceria da Embrapa com os mandiocultores da região do Alto Rio Pardo, na seleção de cultivares adaptadas. “Isso dá segurança para que os técnicos da extensão rural confirme os materiais mais indicados para o plantio aqui no norte de Minas”, afirma.
As novas cultivares de mandiocas de indústria também foram testadas por produtores de outros segmentos. A cooperativa de avicultores Cio da Terra, do Distrito Federal, iniciou na propriedade de Luiz Gonzaga Lopes um projeto-piloto de produção de mandioca de indústria com o plantio experimental das três novas cultivares da Embrapa.
O presidente da cooperativa, José Malaquias de Castro, explica que os avicultores da região têm manifestado o interesse de propriedade as áreas livres do entorno das granjas com lavouras que não comprometem a biosseguridade da criação das aves. “Fizemos um projeto-piloto para aprendermos a produzir. Vimos que o mais correto seria produzir mandioca de indústria, pois além de não utilizar produtos nocivos às aves, teríamos vários derivados e, por fim, instalar uma fábrica para agregação de valor à produção ”, explica.
Na propriedade de 93 ha, Luiz Gonzaga Lopes utiliza apenas 10 ha para uma produção de ovos férteis. Em busca de uma alternativa para complementar a renda e aproveitamento a área livre da fazenda, ele destinou 12 ha da propriedade para testar como mandiocas de indústria da Embrapa. “As três cultivares tiveram um resultado excelente. Além de terem ramas verticais e que características manivas de qualidade, observamos que elas não tiveram qualquer tipo de doença e que a produtividade é alta, bem acima da esperada ”, destaca Lopes.
Fonte: Embrapa Cerrados
Fonte: Embrapa Cerrados