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14/09/2021
O Early Warning System ( EWS ), ou Sistema de Alerta Precoce em livre tradução, é uma plataforma que simula os riscos de incidência de brusone com base na coleta de dados meteorológicos. O EWS é o resultado de um projeto liderado pelo Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo ( CIMMYT ), em parceria com a Embrapa e a Universidade de Passo Fundo ( UPF ).
Os riscos associados à ocorrência de brusone estão diretamente relacionados às condições climáticas, especialmente durante o período de espigamento do trigo. A ocorrência de chuvas relacionadas, a temperatura acima de 22ºC, o tempo de molhamento da planta acima de 10 horas, dias nublados e alta umidade relativa no ar formam como condições ideais para a proliferação da doença.
O EWS é capaz de analisar dados coletados por estações meteorológicas e prever quando essas condições ocorrem nas regiões com lavouras de trigo. O sistema cruza essas informações com a fase de desenvolvimento em que as plantas se encontram e, em caso de risco, envia um alerta aos produtores para que executem ações de prevenção.
Como não existe cura, o controle da brusona deve ser preventivo, com a aplicação de fungicidas antes de o fungo se instalar na planta. Em média, o fungicida protege a planta da doença entre 12 e 14 dias. Assim, para fazer um controle mais assertivo, é preciso verificar as mudanças climáticas, avaliando o melhor momento e a real necessidade de fazer a aplicação do defensivo. A plataforma Early Warning System auxilia exatamente nessa tomada de decisão. No site do EWS , o usuário escolhe o país, o estado e a estação meteorológica mais próxima para avaliar no mapa os riscos em baixo, moderado e alto.
O pesquisador da Embrapa Trigo José Maurício Fernandes explica que uma doença é considerada uma ameaça global, pois não há variedades que apresentem resistência ao fungo. “Não há germoplasma resistente na maioria dos genótipos-elite de trigo em nível mundial e os tratamentos com fungicidas são ineficazes quando a intensidade da doença é alta”, explica o cientista.
No Brasil, o EWS ainda está sendo abastecido com dados, considerando a diversidade de ambientes de cultivo de trigo no País. “Estamos trabalhando em uma interface mais responsiva, capaz de rodar o site em diferentes dispositivos e com maior abrangência”, conta o pesquisador da UPF Willington Pavan. Segundo ele, a interatividade com os usuários cadastrados também está sendo testada, com o envio de alertas, em fase experimental, para smartphones e-mails .
Parceiro do projeto em Bangladesh, o pesquisador Tim Krupnik, representante nacional do CIMMYT, conta que no país asiático o EWS já está funcionando desde 2019, com o envio de mensagens de texto e e-mails para uma rede de extensão rural que atua com trigo .
Por enquanto, o EWS está restrito para os estados produtores de trigo no Brasil e em Bagladesh, mas no futuro deve estar contempladas todas as regiões tritícolas do mundo.
Outro avanço previsto é ampliar uma base de dados do EWS para a giberela, outra importante doença de espiga com epidemias frequentes em diferentes cultivos de trigo na América do Sul e na Ásia.
A brusone é uma das principais doenças do impacto econômico no trigo. O agente causal é o fungo Magnaporthe oryzae que, quando ataca a ráquis da espiga, resulta em grãos deformados e com baixo peso específico, o que implicações redução no rendimento das culturas. O fungo causador se dispersa por meio do vento e pode atacar mais de 50 espécies de gramíneas, além de sobreviver em restos de culturas, sementes e plantas voluntárias.
A doença foi registrada pela primeira vez no Brasil na década de 1980, em certas epidemias em áreas tropicais, mas em pouco tempo se espalhou pela América do Sul causando epidemias na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. A chegada da doença a Bangladesh, em 2016, no sul da Ásia, e na Zâmbia, na África Meridional, na safra 2017/2018, acendeu o alerta para uma ameaça global que a brusone representa.
No Brasil, a brusone é mais importante na região tropical, mais frequente in regiões como no norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. A última epidemia de brusone no País foi observada em 2012, quando os danos acima de 40% comprometem as lavouras na fase de espigamento do trigo no norte do Paraná, em Mato Grosso do Sul e no sul de São Paulo.
Casos independentemente de brusone no RS têm sido detectados desde 2014, mas nunca foram originados de epidemias da doença. Em 2019, conforme as condições climáticas no início do ciclo da cultura propiciaram a infecção do fungo da brusone ainda no perfilhamento das plantas em Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal.
Fernandes lembra que, apesar de ainda não representar risco para os países produtores de trigo no Hemisfério Norte, os principais centros de pesquisa com cereais estão alertas à disseminação da doença no mundo, o que pode comprometer a segurança alimentar, principalmente nos países pobres da Ásia e da África. Ele explica que o clima do Hemisfério Norte não favorece as referências do fungo causador da brusone nas condições atuais. No entanto, conforme as mudanças climáticas e até possíveis mutações no microrganismo podem alterar esse cenário, por isso a preocupação de todos os países produtores do cereal.
Fonte: Embrapa Trigo