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19/04/2021
Em Itápolis é tempo de iniciar a colheita do pimentão, atividade que envolve cerca de 50 produtores, a maioria pequenos, e que representa boa parte da economia gerada pela atividade agrícola no município. A colheita, embora vá até dezembro e seja possível produzir o ano todo, tem sua melhor fase entre abril e outubro; já os meses de janeiro e fevereiro costumam ser dedicados ao plantio. Segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados em 2018, o agro voltado ao pimentão em Itápolis foi responsável por um faturamento em torno de R$ 7,2 milhões, que representaram 4,23% do PIB (Produto Interno Bruto). Já em 2020, o valor aproximado é de R$ 8,1 milhões em faturamento, mostrando o quão é representativo o cultivo do pimentão no município.
A área rural de Itápolis tem aproximadamente 100 mil hectares, onde estão instaladas, segundo o LUPA − Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agrícola do Estado de São Paulo − 2.427 propriedades. “Em 2021 ocorreu um aumento expressivo da área de cultivo de pepino, dobrando para 30%, sendo assim, ter 10 ha dedicados a uma única cultura é bastante representativo”, afirma o engenheiro agrônomo Sílvio Carlos Pereira dos Santos , responsável pela Casa de Agricultura local, vinculada à Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Jaboticabal, conhecida por sua grande diversidade em produtos agrícolas.
No entorno de Itápolis existem 15 municípios produtores, os quais englobam as Regionais de Jaboticabal, Araraquara e Catanduva da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, e onde são encontrados 110 hectares de estufas de produção de olerícolas, em especial pimentão, pepino e tomate. Itápolis, que é da área de atuação da CDRS Regional Jaboticabal, faz divisa com oito desses municípios e o carro-chefe da produção em estufas é o pimentão, com 80% da área, seguido pelo pepino, com 15%, e tomate com 5%, sendo, portanto, com 10 ha de estufas o carro-chefe em produção de pimentões vermelhos e amarelos da variedade Lamuyo.
“Pimentões de coloração variada, laranja, roxo, creme, também podem ser encontrados em Itápolis, porém em pouca quantidade, atendendo mercados específicos, como algum restaurante em especial, mas o maior mercado, sem dúvida, é o do pimentão vermelho, sendo a proporção de duas caixas do vermelho para um caixa de amarelos”, explica o técnico. Quanto aos verdes, geralmente são plantados a campo poque têm uma lignina que faz com que aguentem o sol, coisa que os coloridos não aguentam e, portanto, só podem ser produzidos em estufas. “Tenho um produtor que tira alguns verdes no início da colheita e deixa as demais ruas para amadurecer e se transformarem em vermelhos e amarelos, mas é para atender a um nicho específico. Com este planejamento ele consegue ter e comercializar pimentões o ano todo”, explica Sílvio, dizendo que para tudo é preciso haver gestão e planejamento do agronegócio. “É a única forma de dar certo e obter rentabilidade na agricultura. Tenho um produtor que vive, economicamente falando, muito bem produzindo em uma pequena área, porém é um agricultor atento tanto aos tratos quanto ao mercado”, explica o técnico.
Itápolis também sedia, desde 2016, a Festa do Pimentão, realizada normalmente no mês de julho que é quando as temperaturas baixam no Sul do País e os produtores de Itápolis passam a vender também para a região, de maio até setembro, meses mais frios, tendo, portanto, maior procura e, consequentemente, elevação dos preços. “No ano passado, devido à pandemia, a Festa foi virtual e realizada no mês de dezembro. Para este ano, voltamos ao calendário instituído oficialmente, segundo domingo do mês de julho”, diz Sílvio que é um dos organizadores, concluindo: “Trata-se de um dia de festa, porém uma semana de palestras técnicas sobre hortifruti e já conta com um público cativo, que busca por informações e novidades nessa área”.
Pimentão: desafio de produtores engajados
Muitos produtores acreditaram na alternativa e se engajaram no desafio que é o cultivo em estufas. Valdecir Fernandes é técnico agropecuário por formação e durante anos consultor em citros, atividade que foi dando espaço ao cultivo de pimentões, tomates especiais e pepinos em estufa. Como não tinha terra, Valdecir arrendou em parceria com um parente para a instalação da primeira estufa em 2012. De 2012 a 2016, o agora também produtor rural foi aumentando a área aos poucos até chegar a sete mil metros quadrados de estufas, 70% dedicados aos pimentões e 30% dividido entre o tomate especiarias (aquele que vem em cachos) e pepino.
“Já cheguei a produzir 70 toneladas no ciclo total (início da colheita em abril e término em setembro), porém com as mudanças climáticas está sendo mais difícil obter essa produtividade, hoje fica na casa das 50 mil toneladas/ciclo com colheita semanal”, explica Valdecir. Além das mudanças climáticas outro problema tem sido o combate às pragas de solo, em especial nematóides. “É muito comum vir a ocorrer porque se o plantio ocorre em campo aberto, você pode fazer uma rotação, mas como o cultivo é sempre dentro da mesma área, protegida pela estufa, é preciso estar atento e investir. É uma cultura tecnificada a produção em estufas, mas permite ter produção, gerar renda e emprego (tem dois empregados fixos, mas já está sendo necessário aumentar essa mão de obra) em menos de um hectare. O investimento na construção desses sete mil metros de estufa foi de cerca de R$ 500 mil, mas, junto a isso tenho a satisfação de dizer que cinco famílias estão vivendo dessa atividade nessa pequena área”, afirma Valdecir.
O investimento foi todo feito com recurso do Pronaf, os primeiros foram pagos, mas tem sempre algo a fazer, como a renovação das estufas e não é possível entrar e permanecer na atividade sem o financiamento porque atrelado ao financiamento, que permite crescer, modernizar, reformar, vem o seguro contra intempéries, granizo, etc, “é um investimento de risco, então tem que ter a garantia do seguro, esse é um dado importante, não é possível investir neste tipo de cultivo sem contar com o seguro rural”, ensina o técnico em agropecuária que está deixando de ser consultor para se dedicar somente a ser produtor.
As histórias daqueles que acreditaram no cultivo de pimentões se misturam. José Paulo Martins dos Santos, o Paulinho, trabalhava como empregado nas primeiras estufas instaladas em Itápolis. Mas em 2013 veio o convite do vizinho Daniel Antonio Vicentim para montarem a primeira estufa em parceria. No ano seguinte montaram a segunda e, em 2019, a terceira somando 4.200 m2 de investimento em pimentões vermelhos e amarelos e ainda 2 mil pés de pimentão verde plantados em campo aberto. Na estufa mais antiga, o cultivo foi feito em setembro e a colheita será em julho/agosto. Já nas novas, a colheita começa ainda este mês de abril (em torno de 10 dias). “O pimentão dá o ano inteiro, alguns meses mais, outros menos. O mercado é muito bom, tudo o que for colhido tem mercado, tanto para os pimentões verdes, que têm preço menor mas também menor custo de implantação, quanto os coloridos”. Com 57 anos, Paulinho comemora o fato de ser dono do próprio negócio. “Os pimentões possibilitaram a compra de dois terrenos em Itápolis, e uma bela camionete”, conta falando que a sociedade entre os vizinhos do Bairro das Antas, em Itápolis, só tem se fortalecido ao longo destes anos. “Claro, existem desafios e problemas, é preciso estar atento às doenças e pragas, mas o saldo tem sido muito positivo”, confirma Paulinho.
A visão e o trabalho da extensão rural no desenvolvimento de uma atividade
A história do pimentão em Itápolis se mistura à história de um extensionista que se apaixonou pela cultura de pimentões no sistema de estufas e percebeu a possibilidade de oferecer uma alternativa viável e rentável aos pequenos produtores rurais da região.
“Em 2008, no mês anterior à minha posse no cargo de chefe da Casa de Agricultura de Itápolis, disse a minha esposa que iria iniciar um projeto visando transformar Itápolis em referência na produção de pimentão em estufas. Até novembro de 2007, eu trabalhava como conveniado na Casa da Agricultura de Iacanga, onde tínhamos dois projetos, o Balde Cheio, voltado à pecuária leiteira e desenvolvido em parceria com a Embrapa e o Sebrae, e o projeto de produção de pimentão em estufas. E lá eu vi como o cultivo em estufas pode transformar a vida dos produtores. O tempo passado em Iacanga me fez adquirir experiência em assistência técnica em cultivo em estufas, em especial pimentão”, conta o engenheiro agrônomo Sílvio, que percorre também outros municípios vinculados à CDRS Jaboticabal com oferta de assistência técnica e promoção de extensão rural nessa área.
É voz corrente no mundo agro que o trabalho desenvolvido pela extensão rural depende de vários atores, principalmente da confiança depositada no técnico que está à frente da Casa da Agricultura, que é o braço da Secretaria de Agricultura e Abastecimento que chega mais próximo ao produtor rural. “No primeiro dia de trabalho em Itápolis, em setembro de 2008, eu dei a sorte de conhecer o produtor Aguinaldo Rossi e nele identificar a liderança que me ajudaria a iniciar o projeto de produção de pimentões em estufas. Foi rápido, cheguei às 7h20 e às 9h já estava acompanhando os colegas conveniados da Prefeitura de Itápolis nas visitas a campo. No caminho fui ouvindo as histórias e percebi que talvez fosse o momento e a pessoa certa para iniciar uma conversa e apresentar novas propostas”, conta Sílvio.
Como todo bom extensionista a conversa foi longa e ao final foi lançada a ideia do cultivo de pimentões em estufas e a formação de uma associação. Dois dias depois, o produtor Aguinaldo foi à Casa da Agricultura dizer que, além dele próprio, já haviam mais dois produtores interessados em cultivar pimentão. “Foi assim, com três produtores, que iniciamos o projeto na cidade que era conhecida como “a capital nacional da laranja”, com 1.600 produtores investindo em pomares de citros. A grande diferença entre esses produtores e os de pimentão em estufa é que os primeiros estão acostumados à mecanização, ao uso de trator, aos equipamentos, etc, enquanto as estufas exigem um trabalho manual e mais dedicado no dia a dia, mas bastante interessante a quem pratica agricultura familiar. “Todos os dias tinha fila de produtores esperando para fazer um financiamento tipo FEAP ou Pronaf para plantar mais laranja, e eu precisava criar uma estratégia para chamar a atenção para o cultivo de pimentão. Aí todo final de semana eu ia até Iacanga e trazia quatro pimentões vermelhos e quatro amarelos e punha no canto da mesa. Os produtores entravam em minha sala e eu não precisava falar nada, atraídos pelos pimentões e curiosos começavam a perguntar. Foi então que comecei a formar pequenos grupos de excursão à Iacanga para conhecer as estufas. As perguntas eram muitas: como fazer as estufas, para quem vender, como transportar até os centros de consumo. Eu tinha as respostas para essas perguntas e também para a mais importante que era: eu não entendo nada de pimentão, como vou fazer? Eu ensino”, era a resposta que acabava por convencê-los.
O mercado comprador, a princípio, foi 100% a Ceagesp na capital paulista. O envio era feito via transportadora e aí havia o custo do frete. Hoje, a comercialização é toda feita na própria região e nas Centrais de Abastecimento (Ceasas) de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, além de supermercados regionais. “Essa transformação ocorreu porque a região de Jaboticabal é produtora de frutas e os compradores que possuíam packing houses de comercialização de frutas se interessaram por comercializar também o pimentão, que tem mercado certo e, no inverno, ainda tem forte demanda pelos compradores da região Sul do País que não conseguem produzir devido ao frio”, explica Sílvio.
Para as primeiras conversas, o técnico convidou, além dos produtores, representantes dos boxes da Ceagesp, de transportadoras, e de uma empresa especializada em montagem de estufas. “Em seguida fizemos uma excursão com 40 produtores ao Ceagesp, em São Paulo e também aos produtores de Iacanga para que pudessem tirar as dúvidas e ver de perto o trabalho. No início, foram feitas muitas capacitações, algumas sobre manejo e tratos e outras visando a classificação e embalagem, enfim, todas visando a capacitação do produtor para que ele pudesse fazer a sua escolha tendo em vista toda a cadeia”, reforça Silvio. Em relação ao crédito para a instalação das estufas, estavam disponíveis as linhas do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap) e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) já conhecidas de muitos, já que a maioria atende aos requisitos de agricultura familiar. Todos os ajustes e acertos estavam feitos, aí foi colocar a ideia em prática e o que era um desafio, um sonho, uma alternativa, virou realidade.
“Toda essa evolução na produção olerícola em ambiente protegido no município de Itápolis deu-se ao árduo e constante trabalho dos extensionistas da Casa da Agricultura e Regional de Jaboticabal. Nada aconteceu repentinamente, foram várias ações promovendo o desenvolvimento tecnológico, econômico e social das famílias que se dedicam à produção sustentável de pimentão, visando geração de renda e o bem estar das pessoas no campo”, confirma a diretora da CDRS Regional Jaboticabal Fabiana Ferreira Gouveia.
Representatividade do pimentão em Itápolis
Itápolis tem, atualmente, 50 produtores envolvidos com a cultura do pimentão. Sílvio diz que esse número chegou a ser maior, 65 produtores, mas, segundo o técnico, as mudanças climáticas têm reduzido a produtividade e encurtado o ciclo da cultura. “Devido a essas condições adversas, somadas à ausência de investimento em tecnologias que permitam um melhor controle climático dentro das estufas, alguns produtores abandonaram a atividade”, afirma. O extensionista conta que o trabalho de cultivo de pimentão não é pesado em relação a outros, mas exige muito capricho e dedicação. “À medida que os produtores vão aumentando o número de estufas, a necessidade de mão de obra também aumenta e muitos, vindos da agricultura familiar, relutam em contratar funcionários. Com isso, os tratos culturais se tornam deficientes, resultando em pragas e doenças. Enfim, é um cultivo que exige disciplina do produtor, pois há necessidade de um monitoramento diário; os tratos culturais não podem ser deixados para outro dia, pois dificilmente se consegue reverter uma situação desfavorável, já que as hortaliças em geral possuem um metabolismo intenso e um ciclo rápido”, ensina o extensionista, que continua sendo um incentivador do cultivo, pois há mercado e podem ser obtidos bons resultados.
Silvio salienta a importante contribuição do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, do Sindicato Rural de Itápolis, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, da Prefeitura Municipal de Itápolis, de empresas da iniciativa privada parceiras e o apoio da CDRS Jaboticabal para o sucesso do projeto. Mais recentemente a Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Itápolis e os pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta/SAA) e da Empresa Brasileira de Tecnologia Agropecuária (Embrapa) também se juntaram para dar suporte aos produtores. Em 2019, devido a essa parceria, foi realizada em Itápolis a primeira capacitação no Brasil para formação de auditores e assistentes técnicos da Produção Integrada (PIF) de pimentão. “Realmente tem sido um trabalho em equipe”, orgulha-se Sílvio.
Outro dado importante a ser considerado é que em outras regiões produtoras, como Santa Cruz do Rio Pardo, Bauru e Lins, o desenvolvimento da cultura ocorreu da mesma forma. Um início mais lento, depois um boom com um crescimento rápido, a seguir um declínio para enfim ter uma estabilização. “É natural que haja essa seleção dos produtores mais engajados, isso ocorre em todas as áreas”, comenta Sílvio. E é justamente essa conquista e uniformidade que torna uma região conhecida e respeitada por um determinado produto. Assim é Itápolis, com a história do pimentão.
Pimentão é ingrediente que confere sabor diferenciado aos mais variados pratos
“O pimentão possui baixo valor calórico e tem sabor característico e acentuado, podendo ser usado para dar mais sabor às preparações”, esta é a palavra da nutricionista da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), Sizele Rodrigues.
Mas além disso, Sizele explica que o pimentão possui uma substância chamada capsaicina, que tem ação analgésica, energética, digestiva, vasodilatadora e antioxidante. E, ainda, contém vitaminas C e A e minerais como o cálcio, fósforo e ferro. Ou seja, é um alimento muito rico, usado nas mais diversas culinárias. “Devido à sua rica composição, o vegetal tem propriedades que beneficiam a pele, as unhas e os cabelos e ainda exerce uma importante função de fortalecimento do sistema imunológico, tão importante em todos os tempos”, evidencia a nutricionista.
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo