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01/06/2022
Fase importante da instalação de um plantio, o espaçamento adotado entre as plantas influencia no crescimento e na utilização desta para o empreendimento. Resultados de estudos feitos pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM), em plantios de castanheiras (Bertholletia excelsa) estabelecidos há 20 anos, concluiu a distância de 4m x 4m, e de 5m x 5m, como as mais adequadas para o cultivo dessa espécies florestal para a finalidade de produção de madeira.
A castanheira é comumente conhecida pela utilização de seus frutos, muito comercializado para o exterior, com diversas utilidades devido as suas propriedades nutricionais. Além da produção de frutos, a castanheira pode ser usada para produção de madeira, para restaurar Áreas de Preservação Permanentes (APP), Áreas de Reserva Legal (RL) e contribuir com o sequestro de carbono.
O uso da castanheira para produção de madeira deve ser oriunda de áreas plantadas, pois o abate dessa espécie florestal da natureza é proibido pelo Decreto Lei número 1.282 de19/10/1994. Esse decreto faz referência ao não uso da madeira de castanheira de florestas nativas, entretanto a lei não impede a exploração da madeira procedente de reflorestamento (monocultivo ou plantios mistos) devidamente registrados na “declaração de plantio” no órgão ambiental competente.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Roberval Lima, usualmente há dois padrões de espaçamento no estabelecimento de plantações tropicais: quadrado (o mais comum) e retangular. “O número de árvores plantadas por hectare é uma das principais decisões silviculturais no estabelecimento das plantações”, informa. “É um fator que afeta o custo, porque pequenos espaçamentos requerem alto número de mudas, mas por outro lado, estreitos espaçamentos podem induzir à desrama natural, melhorando a qualidade da madeira”, compara Lima.
No caso da castanha-do-brasil, espaçamentos iniciais muito amplos favorecem a formação de copas grandes, sendo mais indicados para a produção de frutos. Espaçamentos menores são mais indicados para a produção madeira, pois favorecem a desrama natural e a formação de copas mais estreitas.
O trabalho foi conduzido na fazenda Aruanã, em Itacoatiara, no Amazonas, em uma área alterada, usada anteriormente para pastagem, iniciada em janeiro de 1995, a utilização de mudas provenientes do próprio viveiro da propriedade, não tendo sido realizada nenhuma adubação ao longo dos 15 anos de idade do povoamento. Foram avaliadas 566 árvores.
Os tratamentos foram compostos por seis diferentes espaçamentos: 3 m x 4 m; 5 m x 5 m; 5 m x 6 m; e 6 m x 6 m. Foram avaliados e mensurados a altura total e do DAP (diâmetro tomado a 1,30 m do solo), e coletados os dados de sobrevivência.
Os principais resultados da pesquisa demonstraram que a castanheira cultivada ao longo de 20 anos em regimes de espaçamento de 3 x 4 a 6 x 6 m obteve alta sobrevivência da espécie, independente do espaçamento e ainda que:
- O crescimento das árvores aumentou com o regime de espaçamento.
- O espaçamento influenciou os parâmetros morfométricos, com implicações na produção de madeira e frutas e no manejo florestal.
- O espaçamento intermediário de 5 x 5 m proporcionou o melhor rendimento de madeira, pois as árvores apresentaram maior altura comercial e tendência para maior rendimento volumétrico por hectare.
- Espaçamentos maiores também proporcionaram árvores com diâmetros maiores e copas com potencial para fruticultura.
- O desbaste deve provavelmente ocorrer antes que as árvores atinjam a idade de 20 anos para todos os regimes de espaçamento testados.
- A castanheira (B. excelsa) é uma boa opção para fins de reflorestamento devido à sua sobrevivência por longo prazo em diversos espaçamentos, mesmo em ambientes anteriormente utilizados para pastagem.
A castanheira é nativa da Amazônia, incluindo os estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima. Além do Brasil, a espécie ocorre na Guiana, Peru, Bolívia, Suriname, Equador e sul da Venezuela.
Suas sementes são muito apreciadas para consumo e comercializadas no mundo todo.
A espécie também pode ser utilizada em plantios de reflorestamento, com rotações estimadas entre 30 a 40 anos e perspectivas de produção de madeira superiores a 150 metros cúbicos por hectare, o que justifica por sua rusticidade, crescimento relativamente rápido e características adequadas da madeira, que tornam essa espécie uma das mais importantes para programas de reflorestamento na Amazônia. Em relação a essas características silviculturais, apresenta boa eficiência em plantios puros, mistos e sistemas agroflorestais, adaptando-se bem aos solos do bioma Amazônia.
As castanheiras em plantios levam cerca de dez anos para iniciar o florescimento e a produção de frutos se estabiliza por volta dos 12 anos. Entretanto, em observações realizadas nos plantios de castanheira na Agropecuária Aruanã, no Estado do Amazonas, a produção se normalizou aos 15 anos.
A castanha-do-brasil é uma das mais importantes espécies de exploração extrativa da Amazônia. A coleta e comercialização dos seus frutos tem o potencial de contribuir no incremento da renda dos agricultores familiares, melhorar sua qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento sustentável. Para coletar seus frutos não é necessário nenhum dano à floresta, conservando assim o ambiente, reduzindo impactos, bem como contribuindo com o equilíbrio ecológico.
No Estado do Amazonas, a castanha se tornou o mais importante produto do processo produtivo de comunidades extrativistas após o declínio da borracha. Historicamente, essa produção se faz a partir de grupos de unidades familiares, amplamente dispersas ao longo dos rios e florestas das regiões produtoras e posterior comercialização através de intermediários até a indústria que beneficia o produto.
Segundo a Secretaria Estadual de Produção do Amazonas (Sepror), com o apoio de parceiros nacionais e internacionais, foram implantadas, desde 2004, cinco usinas de beneficiamento de castanha nos municípios de Manicoré, Lábrea, Beruri, Amaturá e Barcelos, todas geridas por associações ou cooperativas.
Atualmente estão envolvidas nessas atividades mais de 4.500 agricultores familiares e produtores rurais no Estado. Em 2018, o Idam assistiu 602 beneficiários, com uma produção de 1.339,07 toneladas de castanha in natura.
Em 2019, a balança comercial do setor de árvores plantadas foi de US$ 10,3 bilhões em 2019, o segundo melhor resultado dos últimos dez anos. Essa cadeia industrial representa 1,2% do PIB Nacional. Além de atuar de forma sustentável, é um importante gerador de riqueza compartilhada. Em 2019, foram 1,3 milhão de postos de trabalho, na cadeia de árvores plantadas, somando oportunidades para 3,75 milhões de brasileiros em todo o País. Com os investimentos de expansão devem ser criados mais 36 mil novos postos de trabalho (Ibá, 2020).
No Amazonas, a produção a produção total de madeira em tora foi de 875 mil metros cúbicos, e o valor comercializado ficou em torno de 150 milhões de reais, segundo dados do censo agropecuário (IBGE, 2017). Os municípios com maior produção foram Manicoré, Itacoatiara, Lábrea e Silves.
Por meio da pesquisa e adoção do manejo florestal sustentável (MFS), o País tem dado grandes passos para modificar a exploração tradicional e predatória de suas florestas. Trata-se de um conjunto de procedimentos técnicos, gerenciais e administrativos que visam produzir madeira e produtos não madeireiros, em associação com outros tipos de produção, com o mínimo de danos à floresta.
O sistema de pesquisa florestal, que conta com a participação da Embrapa, foi responsável por elevar o Brasil a altos patamares de produtividade. Uma alternativa para a sustentabilidade das florestas nativas é a implantação de plantios florestais com fins econômicos. O Brasil possui cerca de 7 milhões de hectares de plantios florestais e um grande potencial para ampliar essa área. Os gêneros mais plantados no País hoje são Eucalyptus e Pinus (Embrapa em Números, 2017).
Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental
Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental