Uma última visita aos campos de cultivo de feijão para produção de sementes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo foi feita no dia 13 de novembro. Técnicos do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM) da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC-APTA), de Campinas, percorreram os 30 hectares onde foram cultivadas, na segunda quinzena de agosto, cinco variedades de feijão, todas elas desenvolvidas pelo IAC, sendo novos lançamentos e outras já consagradas. Os grupos foram três do "Carioca", que tem predominância no mercado, chegando a 80% da escolha para consumo, um do grupo ‘Preto" e um do grupo "Jalo/Bolinha".
A visita do diretor do Centro de Produção de Mudas (DSMM/CDRS), acompanhado dos técnicos Jorge Luiz Hipolito (Núcleo de Produção de Sementes ‒ NPS ‒ Araçatuba), Braz Costa de Oliveira Junior (NPS ‒ Avaré), Fernando Alves dos Santos (NPS ‒ Fazenda Ataliba Leonel) e dos pesquisadores Alisson Chiorato e Sérgio Augusto Morais Carbonell, ambos do IAC, ao campo de produção teve interesse relevante, pois o comportamento do clima durante o desenvolvimento das cultivares de feijão foi extremamente adverso: com temperaturas baixa na emergência e formação, e temperaturas extremamente altas durante o período vegetativo e de florescimento que ocorreram durante o final de setembro e no mês de outubro, destacando que os cultivares tiveram um bom desempenho. "Mesmo em condições adversas, essas cultivares terão um teto produtivo alto", avaliaram Alisson Chiorato e Sérgio Augusto Carbonell.
A colheita começa a partir desta semana, de 16 a 20 de novembro, com a variedade precoce IAC-1849 Polaco pertencente ao grupo "Carioca" (ciclo de 70 a 75 dias), lançamento comercial deste ano. As demais variedades serão colhidas em seguida e irão até o final do mês de novembro, com outras variedades do grupo "Carioca" de colheita normal (ciclo de 80 a 85 dias) e do grupo "Jalo/Bolinha", até ciclo longo, com o IAC-Netuno (90 dias) do grupo "Preto". Após passarem por beneficiamento, classificação e embalagem, todas as cinco variedades cultivadas estarão disponíveis para venda ao produtor rural em dezembro.
A área de plantio foi definida por intermédio de um processo licitatório, pelo qual o produtor vencedor foi contratado em forma de Campo de Cooperação, sendo a propriedade localizada em Manduri. Tais acordos de cooperação são comuns na produção de sementes e ocorrem quando o parceiro oferece condições adequadas para cultivo de sementes, como tecnologia apropriada, orientação e acompanhamento dos técnicos do DSMM. No caso, um dos determinantes foi a irrigação com pivô central, que permite a garantia de sementes de boa qualidade.
Durante todo o ciclo, foram feitas vistorias à área pelos técnicos e pesquisadores da Secretaria de Agricultura e Abastecimento para acompanhar todos os manejos, desde a instalação até a colheita. "A irrigação por pivô central, a proximidade de Manduri, onde fica localizada a Fazenda Ataliba Leonel onde são produzidas as sementes disponibilizadas pelo DSMM, e, por consequência, a possibilidade de acompanhamento de todas as fases de produção foram relevantes", explicou o diretor do CPS.
Devido a essa parceria entre a CDRS/DSMM e o IAC e o contrato de colaboração para o plantio com o produtor, haverá disponibilidade de sementes para todo tipo de produtor, do mais tecnificado ‒ que realiza elevados investimentos para obtenção de alta produtividade, o que faz irrigação usando pivô central e manejo adequado com solo equilibrado ‒ até aquele que utiliza variedade mais rústica, que tolera déficit hídrico, é menos exigente e vai bem em qualquer tipo de solo. "Houve a preocupação de atender produtores com perfis variados, do mais tecnificado ao menos, com diferentes variedades dos tipos de feijão", explica Gerson Cazentini Filho.
Todos, extensionistas e pesquisadores, estão muito animados com a perspectiva de uma boa colheita, com a qualidade das variedades que foram cultivadas e com as vendas. "No ano passado foi vendido todo o estoque de sementes e para esta safra estas cinco selecionadas são todas variedades com características excelentes, cada uma a seu modo", afirma Cazentini.
Do grupo "Carioca", além do IAC-1849 Polaco que está em seu primeiro ano comercial e é de ciclo precoce, foram cultivados apenas 200kg de sementes e serão colhidas aproximadamente sete toneladas de sementes. "A qualidade do grão é excepcional, a coloração é clara, peneira homogênea (85% de P 12) e mantém essa coloração por até oito meses e certamente terá uma boa aceitação no mercado. Entre as qualidades de cultivo, tem bom enraizamento, é tolerante às principais doenças foliares, especialmente à antracnose", explica Cazentini.
Ainda do grupo "Carioca", a outra variedade que estará disponível é o IAC-Sintonia, de ciclo normal (85 a 90 dias), que pode ser cultivada em solos mais fracos; não exige altas condições tecnológicas, é tolerante às doenças foliares e aos climas adversos. "Esse é um feijão que costumamos dizer ‘pé de boi’, pois aguenta tudo, é para quem quer aprender a trabalhar com feijão e não errar", enfatiza o técnico. O lançamento foi em 2017, durante a Agrishow, e para a safra do próximo ano estarão disponíveis, também no próximo mês, 20 toneladas.
"Agora, o ‘filé mignon’ dos feijões do grupo ‘Carioca’ é o IAC-1850. Tem excelente qualidade de grão, com alto teto produtivo de ciclo normal, porém exige alta tecnologia, uso de irrigação do tipo pivô central, podendo chegar de 3.500 a 4.000kg por hectare de produção. Ou seja, temos sementes de feijão do grupo Carioca que atendem a todo tipo de nível tecnológico de produtor", enaltece o técnico.
Outro destaque é do grupo "Jalo/Bolinha". Lançado em 2008, pelo IAC, foi oferecido ao setor produtivo, porém deixou de ser requisitado pelos agricultores. Em 2018, o IAC voltou a multiplicar sementes desta cultivar devido a uma solicitação do setor produtivo, que passou a demandar quantidades maiores de sementes desse tipo de feijão. "Foi feita então uma nova seleção para chegar ao padrão de mercado e uma parte dessas sementes foi multiplicada e repassada ao DSMM/CDRS, para ser transferida corretamente aos agricultores do Estado de São Paulo", explica o pesquisador Alison Chiorato.
De acordo com Gerson, o Bolinha é um feijão caboclo, isso quer dizer que há vários tipos de Bolinha no mercado sem origem. Porém tem ótima qualidade de panela, caldo muito cremoso, quando cru tem coloração amarela, ao ser cozido toma a coloração marrom, que é a esperada pelo mercado consumidor, sendo a primeiroa cultivar Bolinha com origem genética do mercado. A pesquisa do IAC trabalhou muito para que essa variedade fosse registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este ano, o Jalo/Bolinha ganhou a denominação IAC-Esperança, "que estará disponível pela primeira vez também em dezembro de 2020", conta.
Ainda há uma alternativa considerada excelente pelo diretor do Centro de Produção de Sementes, o IAC-Netuno, único do grupo "Preto". Lançado em 2016, pelo IAC, foi feita uma nova seleção para que se tornasse excepcional feijão de panela, com caldo bem escuro e grosso, bem ao gosto de quem costuma cozinhar. "É um feijão que não perde a cor e pode ser vendido a qualquer momento, é bem rústico, não exige alta tecnologia na produção. É tolerante ao déficit hídrico e às doenças foliares, inclusive antracnose. E o melhor de tudo: tem mantido o preço nos últimos anos.
O extenso período de estiagem afetou a produção de feijão no Sudeste e Sul do País. O produto plantado no Paraná foi praticamente perdido e será preciso importar feijão para atender o mercado consumidor. Existe possibilidade de escassez também no Estado de São Paulo, a partir de janeiro, o que pode causar elevação dos preços. "O feijão preto surge como uma poupança para o produtor, que poderá vendê-lo a qualquer momento, e uma alternativa para a dona de casa, quando os preços do feijão carioca estiverem na casa dos R$ 10,00 a R$ 12,00 o quilo nas prateleiras do supermercado. No ano passado, toda a produção de sementes foi vendida, o mercado tem crescido para o feijão preto, então tanto é uma boa alternativa para quem consome quanto para quem produz. Tudo o que tiver sido colhido com certeza será vendido; para o produtor o feijão preto configura como uma poupança, uma oportunidade de negócio, já que o saco de 60kg tem previsão de ser vendido ‘na roça’ entre R$ 150,00 e R$ 200,00", argumenta Gerson Cazentini.
O preço da saca de qualquer dessas cinco variedades ainda não foi definido pela equipe da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, mas será único para todos, independente da variedade escolhida pelo comprador, e deverá ser anunciado no início de dezembro, após a colheita, o beneficiamento e a embalagem. O telefone do Centro de Comercialização é (19) 999790-8824. Os pedidos podem ser feitos para essas e outras sementes comercializadas pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, via DSMM/CDRS.