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04/09/2021
Entidades que representam os caminhoneiros são contrárias à paralisação de veículos no feriado de 7 de Setembro (terça-feira). A greve está sendo convocada nas redes sociais por aliados do presidente Jair Bolsonaro. Uma das reivindicações é o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que tomaram decisões contrárias aos interesses do governo federal.
“Não há nenhuma pauta neste movimento que diga respeito diretamente aos caminhoneiros”, afirma o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São Paulo (Sindicam-SP), Norival Almeida Silva. “Como cidadão, o caminhoneiro pode participar ou ser contra, mas não vamos colocar a entidade nessa paralisação”, afirma ele, que também é presidente da Federação dos Caminhoneiros do estado, a Fetrabens.
Ariovaldo Júnior Almeida, do Sindicam de Ourinhos (SP), também é contra a paralisação. Para ele, os caminhoneiros estão sendo usados pelos produtores rurais devido a uma queda de braço entre o agronegócio e o STF a respeito do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), imposto cobrado sobre a receita bruta da produção dos empregadores rurais. Parte do valor arrecadado com o Funrural é usada pelo governo federal para financiar os benefícios previdenciários dos trabalhadores rurais, como auxílio-doença e aposentadoria.
“Há agricultor e tradings (empresas que fazem exportação dos produtos agrícolas) com dívidas bilionárias de Funrural e estão pressionando o Supremo para serem anistiados”, denuncia o sindicalista. Interpretações sobre a constitucionalidade do imposto pela própria Justiça fizeram com que produtores deixassem de recolher o Funrural de 2010 até 2021. “Não conheço nenhum sindicato de caminhoneiro no País (são cerca de 140) que esteja participando dessa paralisação”, alega.
Júnior diz manter contato “muito próximo” com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas e afirma que o próprio governo é contra qualquer paralisação dos caminhoneiros. “O patriotismo toca muito no coração do caminhoneiro e estão usando esse sentimento para enganar a categoria. Mas não vai haver paralisação”, aposta.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) divulgou nota segundo a qual as manifestações do 7 de setembro “não carregam em seu escopo nenhuma reivindicação específica relacionada à atividade profissional do caminhoneiro autônomo”. Mas a entidade diz que não pode “se furtar de que o caminhoneiro autônomo antes de tudo é um cidadão brasileiro e, consequentemente, um sujeito de direitos e obrigações, detendo toda a condição de participar livremente na construção coletiva de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária”. “Desse modo, eventual participação de um caminhoneiro na manifestação do dia 7 de setembro representará a vontade individual desse cidadão brasileiro, que decide por si próprio exercer seu direito de livre manifestação e liberdade de expressão.”
Já a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) repudiou o cantor sertanejo Sérgio Reis, que, além de convocar os caminhoneiros para greve a partir do dia 7 de setembro, ameaçou a categoria em mensagem trocada pelo WhatsApp (‘Ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio’).
O diretor da entidade e presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí (RS), Carlos Alberto Dahmer, o Litti, mandou ofício ao presidente do STF, Luix Fux, defendendo a corte. “Excelentíssimo ministro, viemos, por meio deste ofício, externar o nosso repúdio às declarações do cantor, Sérgio Reis, e de pseudo-lideranças de caminhoneiros que convocaram pelas redes sociais um ato antidemocrático, com características extremistas, para o próximo dia 7 de setembro”, diz o documento.
“Defendemos o aprimoramento do regime democrático, mas dentro do Estado de Direito e que esteja em consonância com os sistemas já constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. Para nós, qualquer manifestação que verse contra essas instituições não terá o apoio da CNTTL e dos transportadores autônomos de cargas e celetistas.”
No mesmo ofício, Litti disse que os assuntos que realmente interessam à categoria são: constitucionalidade do piso mínimo de frete; retorno da aposentadoria especial aos 25 anos de serviço; e voto em trânsito.
Fonte: Carga Pesada