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12/11/2020
Semear aveia-preta e trigo no sul Brasil, durante o outono/inverno, pode aumentar em 54% a produtividade da soja, em comparação com áreas deixadas em pousio. Essa é uma das constatações do artigo Performance da soja em sucessão à aveia-preta e ao trigo, publicado em junho de 2020 na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB), produzido por pesquisadores da Embrapa e de quatro universidades .
O experimento foi conduzido no outono/inverno de 2017 e de 2018 e foram aplicados sete tratamentos: pousio (1); palha de aveia-preta ou de trigo, sem raízes (2 e 3); parcelas com raízes de aveia-preta ou trigo, sem palha (4 e 5); e parcelas com palha e raízes de aveia-preta ou trigo (6 e 7). De acordo com o pesquisador da Embrapa Alvadi Balbinot, o desempenho da soja foi estimado a partir das variáveis: densidade de plantas; índice de área foliar; teor de clorofila, estimado pelo índice SPAD; matéria seca acumulada, produtividade de grãos e componentes do rendimento.
“Comprovamos que os efeitos das raízes da aveia-preta e do trigo mostraram-se tão importantes quanto os da cobertura de palha deixadas no solo para explicar os aumentos de produtividade de 1.467 kg/ha, ou seja, 54% superior ao das áreas que ficaram em pousio no outono/inverno”, destaca Balbinot. “O desempenho agronômico da soja é melhor na presença combinada de raízes e de palha de aveia-preta ou trigo, quando comparamos com as áreas deixadas em pousio”, enfatiza.
A autoria é dos pesquisadores da Embrapa Soja Alvadi Antonio Balbinot Junior, Julio Cezar Franchini dos Santos e Henrique Debiasi; e dos alunos de pós-graduação Antônio Eduardo Coelho, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Moryb Jorge Lima da Costa Sapucay, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Felipe Bratti, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Jorge Luiz Locatelli, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Para os autores do artigo, o sistema de plantio direto na palha apresenta benefícios econômicos e ambientais, quando comparado ao preparo convencional, principalmente quando se consegue manter a diversidade de plantas e produção de biomassa. Mesmo assim, áreas agrícolas em pousio entre duas safras de soja, de março a setembro, ainda são comuns no Brasil. “Entendemos que os sistemas de cultivo com baixa diversidade de plantas e consequente baixa adição de biomassa são a principal causa da degradação do solo sob plantio direto”, detalha o pesquisador.
Segundo os autores, a aveia-preta tem grande capacidade de produção de matéria seca, resultando em cobertura adequada do solo sob plantio direto, alta ciclagem de nutrientes e supressão de plantas daninhas. Além disso, os autores dizem que a espécie pode ser facilmente dessecada para o plantio das safras subsequentes.
As raízes podem melhorar a qualidade física do solo, favorecendo a infiltração e a retenção de água e ainda a liberação de nutrientes para as safras subsequentes. Por outro lado, a palha reduz a taxa de evaporação da água no solo, os picos de aquecimento do solo, a infestação de ervas daninhas e a ocorrência de erosão do solo.
Quanto à remoção de aveia-preta ou de trigo para produção de silagem ou feno, pode reduzir os benefícios dessas culturas no rendimento subsequente da soja. “Por isso, o produtor deve considerar essas informações no processo de tomada de decisão”, avalia o cientista.
Na safra 2017/2018, a disponibilidade de água foi adequada ao longo do ciclo de desenvolvimento da soja. Em 2018/2019, houve déficit hídrico durante a floração e o enchimento dos grãos. Nessa safra, as culturas de aveia-preta e trigo beneficiaram a soja, em relação ao pousio. “Portanto, é possível inferir que os efeitos positivos da palha e das raízes na produtividade da soja estão principalmente associados à redução do estresse hídrico observado durante o período de enchimento dos grãos”, destaca. “Desse ponto de vista, os efeitos positivos das raízes da aveia-preta ou do trigo na produtividade da soja ocorrem em grande parte pela melhoria da estrutura do solo”, avalia.
Ele explica ainda que o crescimento das raízes, de safras anteriores, contribuiu para fraturar camadas compactadas do solo e criar uma rede complexa de bioporos contínuos e estáveis. “É bem conhecido que bioporos produzidos por safras anteriores desempenham um papel importante no aumento da infiltração de água no solo, condutividade hidráulica e difusão de gás, proporcionando maior disponibilidade de água e oxigênio para as raízes das culturas subsequentes”, destaca o pesquisador. Além disso, a estrutura melhorada do solo facilita o enraizamento da soja e a absorção de água das camadas mais profundas
Balbinot aponta ainda que a palhada também favorece o armazenamento de água no solo, pois reduz as perdas por evaporação e o escoamento. “Portanto, a palha na superfície do solo provavelmente aumentou a disponibilidade de água para as plantas de soja, amenizando os impactos negativos dos períodos de déficit hídrico de 2018/2019 na produtividade da leguminosa.”
Outra vantagem da retenção da palha, segundo ele, é a redução da temperatura do solo, proporcionando um melhor ambiente para o crescimento e funcionamento da raiz da soja, o que aumenta a eficiência do uso da água pela planta e rendimento de grãos.
Outro fator provavelmente relacionado aos efeitos positivos da aveia-preta ou trigo no desempenho da soja é o aumento da FBN. Isso porque, segundo os autores, tanto o déficit hídrico quanto as altas temperaturas do solo prejudicam a eficiência das bactérias usadas na FBN em condições tropicais. “Como as raízes e a palha contribuem para melhorar a qualidade física do solo, espera-se que estresses ambientais sejam menores nesses solos, aumentando, consequentemente, a produtividade da soja”, conclui.
Fonte: Embrapa Soja