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01/10/2020
Uma solução inovadora, desenvolvida pela Embrapa Agrobiologia (RJ), tem potencial para alavancar e garantir mais qualidade à agricultura em áreas urbanas. Chamada de “mudas em standby”, a tecnologia oferece mudas de qualidade e substratos apropriados aos produtores caseiros de temperos e hortaliças, além de conhecimentos técnicos para a realização correta da semeadura. O diferencial está no aumento do tempo de armazenamento das mudas, que pode ser de meses, viabilizando a sua comercialização antes da germinação das sementes. Testes já comprovaram o bom desempenho da nova prática. Agora a tecnologia aguarda o interesse de empresas para validar o uso em larga escala e chegar ao mercado.
“A tecnologia aumenta muito a vida de prateleira de mudas de diversas espécies vegetais, de alguns dias para meses, tornando viável a comercialização em supermercados e até mesmo por meio de comércio eletrônico, com envio como encomenda comum pelos correios”, relata o pesquisador Marco Antônio Leal, responsável pela pesquisa e execução do trabalho.
A obtenção de mudas por meio da tecnologia de mudas em standby envolve duas etapas. Primeiro, é realizado o preenchimento do recipiente com o substrato e a semeadura, gerando o produto que será comercializado. A segunda etapa, que é realizada pelo consumidor, envolve o umedecimento e o desenvolvimento da muda em si, o que pode ser feito meses após a primeira fase. O tempo de armazenamento varia de acordo com a espécie da planta, mas os testes apontaram que é possível guardá-las por, no mínimo, três meses. “Algumas têm capacidade de sobrevivência maior do que outras. As mudas de tomate, por exemplo, chegaram a ficar até um ano armazenadas antes da germinação. As de couve, por outro lado, suportaram apenas três meses”, conta Leal.
Embora tenha feito uma avaliação preliminar de desempenho com cinco espécies de hortaliças e temperos (alface, tomate cereja, couve, manjericão e cebolinha), o pesquisador diz que, a princípio, a tecnologia pode ser aplicada a qualquer tipo de muda. “Ela pode contribuir para uma grande expansão do cultivo de hortaliças e plantas aromáticas, medicinais e ornamentais em pequenos espaços dentro do ambiente doméstico”, aponta o pesquisador.
O cientista explica que as mudas em standby podem contribuir também para suprir a crescente demanda por mudas de espécies florestais, em decorrência do novo Código Florestal e dos compromissos de restauração assumidos pelo Brasil. “Uma das vantagens no uso da técnica pode ser o aumento da diversidade genética das mudas produzidas, ao viabilizar a utilização de sementes oriundas de um maior número de matrizes”, complementa Leal.
Apesar de o foco das pesquisas até aqui ser as hortaliças (aromáticas e condimentares), o pesquisador acredita que a técnica pode contribuir para a redução de custos das mudas de espécies florestais e para o aumento da sua diversidade. “Uma produção de mudas não germinadas em grande escala pode auxiliar também na logística de envio para grandes distâncias”, ressalta Leal, explicando que elas podem ser transportadas como "carga seca", ou seja, um produto não perecível.
A produção de mudas em standby envolve a aplicação de várias inovações que, associadas, possibilitam seu armazenamento por mais tempo, preferencialmente em geladeiras comuns. “A germinação da muda ocorrerá somente quando o consumidor desejar”, diz Leal, lembrando que basta seguir as instruções de reidratação.
Para que o produto chegasse a um formato ideal e prático, tanto para armazenamento quanto para utilização, foi necessário investir em muita pesquisa, desde o desenvolvimento de um substrato especial e das características do recipiente até a forma de acondicionamento das sementes e o procedimento de reidratação. “A primeira grande dificuldade foi acertar o grau de umidade do substrato, que não pode ser desidratado nem muito úmido, em decorrência do risco de a semente germinar antes do tempo”, revela o pesquisador.
Outro desafio foi o processo de umedecimento das mudas, que precisou ser testado diversas vezes até chegar a um formato de embalagem cuja entrada de água para o substrato fosse realizada por baixo, mas com aeração nas laterais. “Além disso, a semente não poderia mudar de lugar, nem para cima, nem para baixo. Foi necessário desenvolver uma solução para manter a profundidade exata. Houve ainda a etapa de montagem do recipiente, fundamental ao funcionamento do processo”, aponta.
Para evitar esse deslocamento, a solução encontrada pelo pesquisador foi realizar a semeadura por meio de papel semente. Na montagem do conjunto recipiente-substrato-semente, a semente deve permanecer a uma determinada profundidade em relação à superfície do substrato, que pode variar de acordo com a espécie vegetal. O deslocamento das sementes durante o transporte ou armazenamento poderia inviabilizar o desenvolvimento da muda. “A película de material permeável que cobre o recipiente também contribui para manter o conjunto substrato-semente levemente comprimido e evita que as sementes se desloquem durante o processo de reidratação”, explica Leal.
“É uma tecnologia que tem por princípio um kit de produção de temperos voltado a consumidores urbanos. Apresenta-se também como uma estratégia de produto com maior valor agregado para o produtor de mudas e hortaliças de áreas urbanas e periurbanas”, destaca o chefe da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa, Gustavo Xavier. “Ela é fruto de pesquisas de longo prazo sobre compostagem e produção de mudas de hortaliças em sistema orgânico de produção, adaptadas à realidade da agricultura urbana”, completa.
O bom desempenho da tecnologia foi comprovado em protótipos. Agora, a Embrapa procura parceiros privados interessados em finalizar o desenvolvimento para que as mudas em standby sejam produzidas em larga escala. O parceiro deverá fazer os ajustes para isso e comercializar a tecnologia.
As empresas interessadas podem contatar a Embrapa pelo e-mail cnpab.chtt@embrapa.br .
Fonte: Embrapa Agrobiologia
Fonte: Embrapa Agrobiologia