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03/08/2022
A usina Ceará-Mirim iniciou a venda direta de etanol para os postos em janeiro deste ano. Após um período de queda na produção da safra de cana-de-açúcar, uma das três produtoras de etanol no Rio Grande do Norte e que pertence ao Grupo Telles, mira a próxima safra como um momento de recuperação. A expectativa é atingir, em quatro anos, a capacidade máxima da usina, de 500 mil toneladas por safra. Nas projeções da empresa, a safra de 2022/23 deve contar com 250 mil toneladas de cana.
O faturamento da Ceará-Mirim em 2021 foi de R$ 68 milhões, o que representa em torno de 10% a 20% do faturamento geral do grupo. Para 2022, a expectativa é aumentar esses ganhos de 30% a 40%. Em 2025, com perspectiva de atingir a capacidade total da usina, o faturamento pode chegar à casa dos R$ 180 milhões a R$ 200 milhões, segundo o grupo.
De acordo com Paulo Telles Neto, presidente do grupo, a usina vinha em uma crescente e chegou ao ápice de 380 mil toneladas de cana em 2019. Naquela época, a projeção era atingir o teto da capacidade máxima da usina na safra 2023/24, no entanto, após dificuldades hídricas, a queda em 2020 foi de 60%, para 180 mil toneladas. “Voltamos quatro anos. A safra 2020/21 foi muito sofrida e estamos começando a recuperar agora”, garante Telles.
Nas projeções da empresa, a expectativa é que, na safra de 2022/23, a usina atinja a marca de 250 mil toneladas; em 2023/24, 350 mil; em 2024/25, 420 mil; e em 2025/26, a capacidade total. “Para isso, estamos fazendo trabalhos com a cana própria, investindo em sistemas de irrigação mais eficazes e a parte de adubação, tratos culturais da cana de açúcar e parceiros e fornecedores. Temos incentivado o desenvolvimento e crescimento dos desenvolvedores na região”, completa Telles.
Estre as técnicas que estão sendo implantados nas fazendas da usina estão os sistemas de irrigação por gotejamento subterrâneo. De acordo com o gestor geral de operações da usina, Gardênio Dias, a ação é inovadora nas fazendas da usina e traz alta produtividade. O projeto é para médio e longo prazo.
“No ato do plantio, essas mangueiras são enterradas e essa área é interligada a um sistema de irrigação que injeta água diretamente na raiz da planta. É uma maneira de alimentar a planta em sua raiz, diferentemente de irrigar por carretel. Traz alta produtividade, economia de água e aproveitamento, não vamos desperdiçar água, pois precisamos apenas jogá-la na raiz”, cita.
Atualmente, a usina está em processo de manutenção, preparando-se para o início da moagem da cana-de-açúcar. “Estamos nos preparativos finais da entressafra e nas programações de moagem, colheita. Estamos nos programando, contratação de mão de obra, mapeamento das canas que iremos comprar. Ainda estamos plantando e os tratos culturais também. O que estamos plantando agora só vamos colher ano que vem, porque o ciclo é de 12 meses”, cita.
Venda direta de etanol
Na usina Ceará-Mirim, uma das metas é aumentar em até cinco vezes essa venda direta para postos a partir da safra de 2022/23. Nos primeiros meses após a regulamentação da lei, a estimativa de interlocutores do segmento é de que o preço do litro do etanol pode ter caído entre R$ 0,15 a R$ 0,50 no Rio Grande do Norte. Apesar da mudança, a variação do preço é sazonal, isto é, atrelada à safra da cana-de-açúcar.
De acordo com o presidente do grupo Telles, Paulo Telles Neto, que administra a usina Ceará-Mirim desde 2002, a venda direta do etanol para os postos começou efetivamente em janeiro deste ano, e atualmente a carteira de clientes está em 52 postos de combustíveis, o que correspondeu a 580 mil litros, 6% do total vendido pela usina na última safra.
Segundo ele, foram registrados casos de postos que compraram etanol na Usina com redução de R$ 0,45 a R$ 0,50 centavos. O etanol também é vendido para outras oito grandes distribuidoras. “Vamos ter que ampliar o volume de vendas em pelo menos cinco vezes para chegarmos à meta de 30%. Ou seja, a projeção é que precisaremos aumentar em três vezes o número de clientes para chegarmos a esse objetivo”, comenta Telles Neto à Tribuna do Norte.
Segundo o consultor Nélio Wanderley, a compra do etanol diretamente nas usinas é algo sazonal, justamente no período das safras da cana-de-açúcar. “A safra do Nordeste representa 10% da safra nacional. A nossa safra no RN não consegue bater todo o ano. Precisamos importar produto do Centro-Sul, principalmente de Goiás e São Paulo. Nesse caso, fica mais caro, porque só o frete encarece quase R$ 0,50 e o preço deixa de ser competitivo”, comenta.
Antes, a usina Ceará-Mirim era conhecida por produzir a cachaça cearense Ypióca, que foi vendida em 2012 por R$ 900 milhões. Após a venda, o Grupo Telles voltou o foco para a produção do etanol para distribuidoras, com o biocombustível sendo vendido para Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, com 90% das transações acontecendo no estado.
“É uma operação bastante positiva. É interessante e importante não só para a usina, como para o consumidor. Na usina se consegue agregar um pouco mais de valor ao produto e isso é importante para o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro do Brasil como um todo, e para o consumidor, que consegue ter um produto com valor mais competitivo na ponta”, explica o presidente do grupo.
Telles e interlocutores do setor afirmam que a mudança na dinâmica da venda do etanol ainda está em construção. “É uma cadeia nova”, afirma. Com a aquisição direta, os postos precisam, por exemplo, se responsabilizar pela logística de buscar o combustível direto da fábrica, ao invés de receberem através dos caminhões das distribuidoras.
“Não é tão simples. Por exemplo: a usina vende, em uma semana, 500 mil litros para uma distribuidora. Carregamos caminhões de 50 mil litros e se faz uma fatura para um grande cliente. Quando se faz para um posto, às vezes esse posto carrega, 2, 3, 5 mil litros. Aquele caminhão você acaba rateando para 10, 15 postos. São 15 clientes diferentes. É uma logística e uma administração bem diferente. Não é só começar a vender, precisa-se criar a estrutura de entrega. A distribuidora faz isso, é a expertise dela”, comenta Telles.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos-RN), Maxwell Flor, considera que a mudança na legislação foi positiva para o setor, mas aponta a questão logística como uma dificuldade para os pequenos postos.
“Quando estava no período de safra, tínhamos notícia de revendedores comprando. Depende muito da logística. Quando manda o caminhão para lá, demora para carregar. Nisso, fico sem um caminhão para carregar gasolina e diesel na distribuidora. Tem que pesar muito, um cenário em que tudo dê certo”, aponta Flor. Segundo ele, na época da safra, o preço do litro do etanol teve queda de R$ 0,10 a R$ 0,15 centavos em períodos de compra direta.
Atualmente, o Rio Grande do Norte possui 664 postos registrados na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sendo 295 desses postos tipo “bandeira branca” (não é vinculado a nenhuma distribuidora).
“Os postos que podem comprar direto da usina são os que não têm contrato próprio com a distribuidora, postos de marca própria. Os bandeirados, a maioria aqui do estado, só podem comprar da distribuidora. É uma questão contratual. Pela lei, já seria possível comprar direto, mas por força contratual não se tem essa permissão”, informa Flor.
Fonte: Assessoria de Imprensa Usina Ceará-Mirim - Kecthum